domingo, 5 de dezembro de 2010

Queria que o meu País...

Eu queria que o meu País
fosse feito de alegria
Queria que no meu País
não houvesse ódio
Queria que o meu País
não conhecesse a guerra
só amor em abundância
amor e muita criança.
Mas com a barriga cheia!
Queria que o meu País
fosse um País sem tristezas
um País sem agressão
e que houvesse sempre pão.
Mas pão em todas as mesas!
Queria ver o meu País
como um enorme jardim
sem igual
cheio de acácias,
buganvílias e cravos.

Delmar Maia Gonçalves

Um Conselho(?)

O Monte Namúli
guarda a cascata
poética da Zambézia.
Quem quiser bebê-la
que vá acariciar o Gurué!

Delmar Maia Gonçalves

Moçambique(ilha)

Uma pérola
no Índico
brilha adormecida
pelo esquecimento
aguardando
um sinal dos novos tempos
uma pérola
no Índico
brilha cintilante
e moribunda
uma pérola
no Índico
aguarda reclamando
um novo renascer
com Afro-Euro-Ásia juntas.

De uma pérola
no Índico
poucas luas
separam o esplendor
do seu passado
do declínio do presente.

Delmar Maia Gonçalves

Tio Velho

Tio Velho
era colono branco
de chapéu alto
que usava balalaica de Káqui
Era careca
amava donzela negra
e tinha muito
"tesouro" escondido.

Marinela
era donzela negra
juramentada
que era curvílinea
usava mini-saia
e tinha
um "tesouro" guardado!

Um dia
travaram conhecimento
e...
Marinela
perdeu seu "tesouro"
guardado
na cama do Tio Velho
em troca
de uma gorjeta!

Delmar Maia Gonçalves

Zambeziando o Moçambi(canto)

Madorna.
Dez horas
da manhã.
Acordei.
É Segunda-Feira,
Cinco de Julho.
Nasci Hoje!
Faço anos,
vinte e cinco anos.
Lembrei-me
da Zambézia!
Da infância,
da juventude,
do cinema,
do futebol,
do rio,
da praia,
dos palmares,
de Quelimane!

Estou com meu pai
no coração,
não há festa
está decidido!

Sinto falta
de tudo.
Sinto-me ausente,
ausente de tudo.
Ausente do espaço que é meu,
ausente no tempo que não me
pertence.

Tento divagar
não estou em mim
Prefiro dormir
e adormeço
e sonho...!
Bom dia Moçambique.

Delmar Maia Gonçalves

Despertar Eterno

Estou então
desperto
para a eterna
novidade do mundo.
Cada dia
que passa
Nasço e Renasço.
Que drama então
é este que transporto?
O de Eternamente Renovar-me?

Delmar Maia Gonçalves

Morte

Morte...
Essa eterna
desconhecida
mascarada
de infinitos
mistérios
e de mistérios
infinitos.
Infiel...
Taciturna...
Quando eu
a encontrar
espero fazê-lo
sereno e em paz
comigo mesmo
Pois desejo
descansar
infinitamente
no Infinito!

Delmar Maia Gonçalves

O Enigma

Sou "negro"
para os brancos
e "branco"
para os negros,
mas sou um Mestiço!

E mesmo como mestiço
sou um paradoxo
um enigma!

Não sei se sou
um mestiço "negro"ou mestiço "branco"
se sou mais negro
ou mais branco.
Sei somente
que sou um mestiço
um mestiço de negro
e branco
um mestiço de corpo
inteiro
uma adição de negro
e branco!

Delmar Maia Gonçalves

Tabuleiro do Xadrez

Sou o que sou ,não o nego,
Para os negros sou mulato
ou misto.
Para os brancos sou preto ou mulato

E eu sou igual a mim próprio
e resultado do famigerado
jogo de xadrez
de quadrados pretos e brancos,
numa simbiose ímpar.

Sim,sou só comparável
ao tabuleiro do xadrez
de Tenreiro.
...
Enquanto dois intervenientes
disputam um argumento,
eu abstenho-me
mantendo-me
calado.

Delmar Maia Gonçalves

Moçambique Bantu

Queres o que mamana África
já teve num passado longínquo.
Queres de volta o que já foi teu.

Tiraram-te tudo,
espoliaram-te,
saquearam-te.
Por isso te rebelas
filho Bantu da imensa África.
E já te chamam " Mozambique"
na Anglófona Commonwealth.

Por isso te enchem de salamaleques
Émires e Xeques Arábicos.
Por isso te honram os Francófonos
com elegantes bien venues.
Por isso também te chamam Lusófono,
Moçambique Makonde e
Suahili,
Moçambique Shona e
Ronga-Changana.

Continua pois
com a tua saga libertadora
rebelde e Bantu Moçambique.
Esse dia há-de chegar
com a bênção dos deuses
que vão do Rovuma ao Maputo.

Delmar Maia Gonçalves