Ainda me lembro do meu tempo de escola primária em Quelimane – Moçambique.
Quase todos iguais, de batinhas brancas, quase todos meninos da mamã, só ele era diferente. Quando aparecia vinha sempre limpo, as calças rotas, a bata sem 2 botões, e calçava uns tamancos.
Tinha enormes olhos castanhos brilhantes, numacara que parecia estar sempre triste.
Ele era o único que era diferente, o mais humilde,o único que tinha coragem e por isso passava o tempo a ser gozado pelos outros.
Uma vez saltou pela janela. A directora da escola ordenou rapidamente a sua captura, ninguém o encontrou; estava escondido na casa de banho das raparigas.
Apenas eu, o tinha visto a entrar a correr mas, não dissera nada a ninguém.
Era o meu herói.
Quantas vezes sonhei ser como ele, não pensar em nada, ser triste e fazer-me alegre, enfim fazer aquilo que me apetecesse na altura, mas acabava sempre imaginando o cinto do meu pai a aquecer-me o rabo.
Ele tinha 3 irmãos e a sua família era pobre.
O pai e os 2 irmãos mais velhos engraxavam sapatos num dos anexos da praça. Sua mãe andava por aí com o filho mais novo semi-nu ao colo, pedindo esmola de casa em casa como acontece na maior parte das grandes cidades.
Ele era preto, apenas mais escuro do que a maior parte dos meus amigos, mas sabia jogar a bola como ninguém conhecia a tabuada toda e sobretudo respeitava a professora.
Era o meu amigo Matusse que talvez se fosse igual aos outros “batinhas brancas” eu não recordasse agora.
Foi o meu herói e ainda não o esqueci.
2 comentários:
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O tempo de quem espera,não é o mesmo tempo de quem recebe.O maior erro das pessoas,é tirar da cabeça,o que não sai do coração
Um Amigo,
Rui Silva
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