sábado, 4 de abril de 2015

Sobre a ANTOLOGIA POÉTICA “NA MARGEM DO SILÊNCIO E ALGUMA ABSTRACÇÃO”

POSFÁCIO
Sobre a ANTOLOGIA POÉTICA “NA MARGEM DO SILÊNCIO E ALGUMA ABSTRACÇÃO”

Uma Jornada poético-literária dos afectos de longo curso
Pediu-me o Poeta LINO MUKURRUZA que escrevesse um posfácio desta interessante Antologia. Uma grande empreitada que assinalo, de que muito me orgulho e me apraz registar.
Sem querer diminuir ou excluir ninguém, pois são todos igualmente importantes e indispensáveis e sendo um espírito livre, destacaria sem dúvida a nova vaga de jovens escritores e poetas Moçambicanos que representam inegavelmente o porvir da Literatura Moçambicana : MUKURRUZA ( o idealizador  e coordenador da obra), que bons olhos o vejam e guardem; TARUMA ; ARIJUANE; QUIVE; MUCAVELE; JOSHUA; DAU; LINEU; LEVENE; MILITAR; WAMBIRE, entre outros (kanimambo vida que os trouxe aos meus sentidos), cuja  verve revolve as entranhas da Moçambicanidade e “revoluciona” e  renova a poética Moçambicana  e quiçá das comunidades que se expressam na  Língua Portuguesa escrita e também  falada e cantada.
ANDRÉ BRETON tinha razão quando afirmou insistentemente que a escrita automática é um dos meios mais seguros para devolver à palavra a sua inocência e o seu poder criador original. Já os Poetas VIRGINIA WOOLF e RAINER MARIA RILKE haviam falado dessa necessidade.
E como precisamos de um olhar despretensioso, descomplexado, renovado, renovador e desempoeirado na poesia…! Alguém duvida?
Basta ler, escutar, sentir e conseguimos ver.
Como disse ABDUL KARIM “Um anarquismo integral de produção natural, será a forma que se antevê irá ser escolhida pela humanidade emancipada.”
Todos sabemos que o pensamento globalizante ou globalizado tem sido massivamente impregnado e perversamente estruturado pela lógica do “terceiro excluído”, dito por outras palavras pela lógica da disjunção e da exclusão. Mas nós sabemos também que a vida não deve funcionar segundo esta lógica. Há outros caminhos e a nossa incerteza é a nossa certeza.
Ninguém duvide portanto, digo eu , que a inteligência dos Poetas precisa  de viver num mundo mais amplo do que aquele que nos oferecem.
No fundo a liberdade criativa empurra-nos para a ideia de ANA HATHERLY que afirma “Tornei a minha escrita ilegível, a fim de poder observá-la apenas gestualmente.”É preciso humildade para que tal suceda. Apagar-se sem desaparecer para iluminar a palavra.
Nos cruzamentos encontros, desencontros e reencontros a poesia se faz respiração.
Poeta quer dizer possesso. Não devemos confundir os artistas do verso com os criadores da poesia. Os primeiros interessam somente à Literatura, ao passo que os segundos têm um interesse indubitavelmente vital e universal como uma flor silvestre ou uma estrela polar.
Os jovens Poetas e Escritores Moçambicanos já deram o prolífico grito poético que não é do Ipiranga mas será certamente de Lichinga, de Maputo, de Quelimane, da Beira, de Nampula, de Inhambane, de Xai -Xai, de Tete, de Pemba, de Chimoio e que fraternalmente abraçam como um ciclone de poesia em fogo Angola, Brasil e Portugal.
São estas pontes que potenciam o fluir frutuoso das margens onde se juntam vozes, discursos e sensibilidades múltiplas e diversas ligando três continentes (África, América e Europa). A palavra escrita será sempre ouro para o futuro se a semente for lançada em território fértil. Que a poesia fale e cante sobre o milagre criativo e da vida que é magia pura e transparência enigmática.
Embora como vate moçambicano na diáspora reconheça que meu barco navega sem proa tal como a fértil e prolífica poesia Moçambicana de que me reivindico migalha, é órfã de três bússolas icónicas incomparáveis: NOÉMIA DE SOUSA, JOSÉ CRAVEIRINHA e EDUARDO  WHITE. Mas são essas mesmas bússolas que servem de orientação para que as pontes aconteçam e fluam em jangadas de poesia em brasa, como esta Antologia cujo mérito deve ser atribuído por completo ao vate MUKURRUZA. Indiscutivelmente somos sem rebuço o que comemos.
Ficará pois nas encruzilhadas o aviso às opiniões e juízos de críticos altivos e pretensiosos que se autodenominam eruditos, de que a poesia não tem amos. O que vem da alma criativa não pode ser acelerado desregradamente em lume brando mas também não pode ser precocemente cerceado da liberdade do parto. Como disse o Poeta Português ANTÓNIO MARIA LISBOA : “A seta já contém o alvo, mas só percorre a seta aquele que lhe conhece o alvo ; assim é de olhos vendados que o grande atirador alveja.”
Ninguém é marginal ou paralelo a nada, principalmente na Literatura.
Bayete Poetas!
DELMAR MAIA GONÇALVES
(ESCRITOR e PRESIDENTE DO CÍRCULO DE ESCRITORES MOÇAMBICANOS NA DIÁSPORA)


Sobre "Contando até Dez" de Rejane Machado


A obra “CONTANDO ATÉ DEZ” de REJANE MACHADO, uma Escritora Carioca, navega tranquilamente pelos turbulentos mares da crítica literária, percorre serena as pistas pacíficas da autoajuda, vagueia docemente pelo território das receitas culinárias e desagua nas crónicas de vida revelando o prazer de quem escreve e voa livre degustando, e bem, as palavras, uma espécie de ladrilhadora da palavra. Opção, decerto,  arriscada, mas calculada e acertada.
Nas suas sábias palavras, propositadamente e pela primeira vez não se esconde por detrás de personagens que vai inventando, reinventando, criando e recriando na sua já longa, vasta e prolífica produção literária.
Valerá a pena descobri-la e redescobri-la nos múltiplos caminhos que percorre.
É que há palavras que são como os seixos; há palavras que são como o mar. E o mar como sabeis chega ao infinito.
Muito haveria a dizer sobre a obra e a autora mas “as palavras são tão densas que prefiro suprimi-las”.
Bayete.

DELMAR  MAIA GONÇALVES
(ESCRITOR E PRESIDENTE DO CÍRCULO DE ESCRITORES MOÇAMBICANOS NA DIÁSPORA)

"Da Raiz (transparências)"



BREVE ANOTAÇÃO SOBRE O LIVRO

 “Quando estou na Poesia tudo se torna mais claro”. Ainda bem.

É essa a sina do Poeta. Por isso, não admira o seu objectivo afirmado e reafirmado “Afastar a mágoa do mundo/Quero/Quero muito” e é natural que, de tanto pensar, conclua sabiamente “Há um tempo para tudo/Por isso, às vezes não penso/Faz-me falta não pensar”.

E como sabeis a poesia é vida. Vida que nos vai inspirando no seu encanto e desencanto num mundo onde cada vez mais reinam desumanos mascarados de humanos.

Daí a impossibilidade do não-pensamento num Poeta, que é tragicamente um fiel guerrilheiro da verdade que busca incessantemente.

Objectivamente as obras literárias como todas as obras de arte são de uma solidão infinita, mas trazem-nos a beleza e o espanto e, ainda, a riqueza da nossa singularidade poética no mundo. Com esta Poeta que se vai afirmando não poderia ser diferente.

A candura da sua suave poética revela-nos o ser que nela habita e que serenamente vai lendo o mundo de forma muito particular e única, porque como diz convicta “Há dias em que trago o mar dentro de mim”. E o Mar meus senhores, o Mar…, quem pára o Mar?


DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora)



Antologia Fernando Pessoa e Convidados





NOTA DE APRESENTAÇÃO

Fernando Pessoa foi um importante poeta português, considerado hoje uma das figuras maiores das literaturas escrita, dita e falada em Língua Portuguesa.

Nasceu a 13 de Junho de 1988, às treze horas e vinte minutos, no Largo de São Carlos nº4, 4º Esquerdo, em Lisboa, filho de Nogueira Pessoa, natural de Lisboa, 38 anos de idade e de Maria Magdalena Pinheiro Nogueira de 26 anos de idade, natural da Ilha Terceira no Açores. Estes pormenores não seriam importantes, não fora o poeta um ilustre esotérico. Seu pai, funcionário público do ministério da justiça era crítico musical, e quando morreu deixou-o com apenas 5 anos de idade. Aos 6 anos de idade morre o seu irmão Jorge, altura em que cria o seu primeiro heterónimo o Chevalier de Pas. Com apenas  anos de idade, escreve a sua primeira poesia, uma quadra dedicada à sua amada mãe. Nesta altura, parte com a mãe para a casa do seu padrasto o Comandante João Miguel Rosa, Consul de Portugal na República Federativa da África do Sul. Em 1901, com 13 anos de idade, escreve o seu primeiro poema em inglês, ano em que regressa a Portugal, abalado, navegando os oceanos para acompanhar o corpo da sua irmã Magdalena Henriqueta, falecida em Durban. Em 1902, vai aos Açores, à Ilha Terceira, com a mãe para estar com a família materna.

Regressa novamente a Durban para estudar. Em 1906, regressa a Lisboa e passa a viver com a mãe e o padrasto. Após a morte da sua avó Dionísia, deixa Lisboa e vai viver sozinho em Portalegre, tendo regressado a Lisboa para montar uma tipografia. E quando falamos de Fernando Pessoa, de quem falamos realmente? De Ricardo Reis? De Alberto Caeiro? Ou de Álvaro de Campos? Certamente de todos num e do mesmo em todos. Todos estes acontecimentos, referidos anteriormente, moldaram o homem e o poeta que foi, como dizia o próprio poeta poliglota, ainda que precocemente “adivinhador de futuros” – Estou cansado de confiar em mim próprio, de me lamentar a mim mesmo, de me apiedar com lágrimas sobre o meu próprio eu – e sem dúvida marcou o seu lugar no mundo quando afirmou – Ora a civilização consiste simplesmente na substituição do artificial ou natural no uso e correnteza da vida. Tudo quanto constituí a civilização, por mais natural que nos hoje pareça, são artifícios. Por isso, esta justa homenagem ao poeta maior da língua portuguesa, no seu dizer Pátria sua, consegue gerar unanimidades e consensos sobre a sua reconhecida grandeza, reunindo poetas de países diversos irmanados pela poesia e pela língua comum, embora abraçando sua heterogeneidade e universalismo. No entanto, é bom que fique sempre claro, que “cada homem é um oceano.  Nunca chegamos verdadeiramente a conhecê-lo” e que “a poesia é a expressão sublime do real e do imaginário surreal”.

Sempre afirmei que o poeta se revela na generosidade com que se dá aos outros. Fernando Pessoa sempre se ofertou ao mundo, almejando um futuro melhor e renegando o hoje que o desencantava, por isso escreveu – Amanhã é dia dos planos. Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo. Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã – aqui se revela o poeta visionário, que premonitoriamente prevê o seu futuro.

Aos poetas antologiados apenas se pode pedir que continuem dignificando o sonho deste poeta maior, dignificando-se.


Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

sexta-feira, 3 de abril de 2015

"Da Poesia? Ou de como se justifica um ponto de interrogação." de Jorge Viegas


PREFÁCIO

Ao escrever este prefácio a pedido do poeta Jorge Viegas, sinto enorme responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma grande alegria por estar a fazê-lo por um amigo que respeito e um autor que aprendi a admirar. Outra coincidência feliz, é que, ambos recebemos a bênção ancestral quelimanense e somos provenientes do torrão Zambeziano. Se bem me recordo, li algures que o sábio Lao Tsé já afirmara que “A humildade é a maior das virtudes” e nós sabemos que a humildade é tão velha como a história da civilização humana.

Ao conhecer o Poeta e o Homem, pude constatar que a modéstia, por vezes exacerbada, é a sua principal marca/ característica/ virtude, embora não seja a única que possui. Trata-se, na verdade, de um excelente poeta e declamador moçambicano, hoje, na diáspora. Em várias tertúlias e encontros sempre elevou vários nomes quer da literatura moçambicana, quer da literatura universal, chamando-lhes de poetas-maiores, quase ignorando o seu. Embora estejamos de acordo em múltiplos aspectos da literatura, neste aspecto particular, permitam-me discordar dele.

Sempre acreditei que para que a nossa estrela brilhe não é necessário apagar a luz de ninguém. O mesmo se aplica no sentido inverso. Pelo que, é de inteira justiça afirmar que ele próprio já faz parte de uma galeria de autores que ficará para sempre na História da Literatura Moçambicana e augurando futuros, também na Literatura Universal. A modéstia não conseguirá apagá-lo, ainda que, como poeta genuíno que é, procure “naturalmente” praticar zelosamente o poema.

Por outro lado, sempre acreditei que “o poeta se revela na generosidade com que se dá aos outros” e ele fá-lo com total entrega, sem nada esperar ou exigir em troca.

Esta publicação antológica, embora tardia (mas nunca é tarde demais para nada) é inteiramente merecida e faria todo o sentido se acontecesse numa grande editora. Infelizmente, as grandes editoras de hoje (e desde sempre) apontam as baterias recarregando-as nalguns nomes grandes que o são, na verdade, por um apurado trabalho de marketing comercial (entre outros) e não apenas fruto da sua grandeza de facto em termos de criação literária.

Sempre preocupado com a estética, afirma convicto “… o poema só pode ser perfeito se o poeta for dos deuses o eleito”. Profundamente possuído pela modéstia, reafirma “sei que jamais farei um poema nitidamente meu. /A minha visão dos homens, das cousas e da vida, é visivelmente perturbada pela visão dos outros./ São os outros que olham, e não eu.” Será isso a prática do poema? Não poderia deixar de especular sobre este aspecto. É por essas e por outras que acredito serem os poetas uma espécie de vendedores de passados que anunciam um futuro que não foi. Embora cultive obsessivamente a humildade desde muito jovem, como o prova este poema “Carta a Régio”, “Vou tentar mascarar-me de palavras para saudar-te./ Sou ainda não o sabes, decerto, sacerdote da religião que tem um Rimbaud por Cristo…/Venho por mim, umbilical e subjectivo como tu, sensacionista e grande como uma pirâmide,/pedir uma carta de recomendação que me ponha de boas graças com o diabo…”
Como dizia Rilke ”Uma das provas ou desafios, a que tem de se sujeitar o poeta é que tem de permanecer inconsciente e ignorante em relação aos seus próprios dons se não quiser privá-los da sua ingenuidade e da sua pureza!”

Neste livro é difícil separar o conteúdo do autor do mesmo. E isso, é já por si bom sinal, na medida em que estamos perante a harmonia das palavras e a prática das mesmas ou pelo menos da crença nelas, há portanto, uma fusão total entre ambos. Por fim, as palavras revelam a estatura do Autor.

Bayete pois então para o Poeta!




DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

"Ian Amos Komenský (Coménio)" de Delmar Domingos de Carvalho



Ao ser convidado pelo autor para escrever o prefácio deste valioso livro sobre esta admirável, singular e incomparável personalidade visionária e cosmocrata, com vastíssima formação e qualidades excepcionais, senti-me honrado e feliz. Só podia ser assim, pois razões há-as de sobra.
Comenius é uma daquelas raras personagens da história da humanidade que vale a pena conhecer, ou revisitar, até pelo seu brilhante exemplo de honestidade, coragem, coerência, abnegação e tenacidade. É importante que não nos esqueçamos do contexto e da época conturbada e de enorme intolerância que viveu, além de uma infância marcada por tragédias e dramática solidão.
Julgo ter sido a forma ágil, paciente e sábia como filtrou e absorveu tudo isto e soube inverter a flecha do infortúnio através do cultivo da sabedoria interior que potenciou e desenvolveu, que o tornou num ser raro e extraordinário.
Tantas são as qualidades desta personagem única que se torna difícil enumerá-las.
Vistas bem as coisas de todos os prismas, acaba por ser um empreendimento de grande mérito esta ambiciosa iniciativa editorial do humanista e escritor português Delmar Domingos de Carvalho, prontamente abraçada e apoia-da pela CEMD EDIÇÕES, de convocá-lo para a actualidade num momento particularmente crítico da sociedade em que a palavra crise ganhou uma dimensão que ultrapassa em muito a área económica e atravessa todas as esferas do seu funcionamento e a palavra de ordem é a globalização económica e dos saberes.
E, no entanto, estranhamente caracterizada por muitos avanços e retrocessos, fruto da ganância, egoísmo e ignorância humanas.
Por isso é sem dúvida de saudar e acarinhar o ressuscitamento/ ressurgimento de exemplos concretos de homens que marcaram a diferença em épocas tão ou mais difíceis contribuindo hoje, mais do que nunca, pelo seu exemplo como forma de encorajamento às novas gerações que actual-mente vivem uma impressionante crise de valores, espelho da sociedade em que vivemos e que construímos, sem sentido crítico ou autocrítico, pese embora todas as conquistas alcançadas no progresso da humanidade em todas as áreas.
Como dizia com razão e bem Benjamin Constant “Não acreditamos em nada do que afirma uma autoridade que não permite que se lhe responda.”
Claramente sempre nos faltou tempo para uma aprendizagem da aprendizagem. Chegou pois a hora de fazê-lo retomando o caminho já iniciado no passado.
A aprendizagem é contínua e para a vida
Só um ser humano com a grandeza incomparável e inquestionável como COMENIUS seria capaz de escrever “De rerum  humanarum emendatione consolatio catolica”.
Atentemos a profundeza e grandiosidade desta alma de luz e do seu pensamento: “Por consequência, se quisermos que a desumanidade dê lugar à humanidade, devemos procurar incessantemente os meios de atingir esse objectivo. Esses meios são em número de três: Em primeiro lugar, os homens devem cessar de confiar demasiado nos sentidos e, atendendo à comum fragilidade humana, devem reconhecer que é indigno sobrecarregarem-se mutuamente de ódio por razões fúteis; deverão de um modo geral, perdoar-se as lutas, danos e ofensas do passado. Chamaremos a isso apagar o passado. Em segundo lugar, ninguém deverá impor os seus princípios (filosóficos, teológicos ou políticos) a quem quer que seja, pelo contrário, cada um deverá permitir a todos os outros que façam valer as suas opiniões e que gozem em paz aquilo que lhes pertence. Chamaremos a isso tolerância mútua. Em terceiro lugar, todos os homens deverão tentar, num esforço comum, perceber o que é preferível fazer e para o conseguir, devem conjugar as suas reflexões, as suas aspirações e as suas acções. É aquilo a que chamaremos conciliação.”
Fabuloso legado ao futuro. Um Testamento visionário, um autêntico Tratado do Humanismo.
E COMENIUS pagou caro por ser um “visionário” demasiado avançado para o seu tempo, um autêntico ladrilhador do grande empreendimento humano, pois sabia que se negavam as verdades que eram necessárias à sociedade para que as ciências florescessem e se disseminassem. Sabia também exactamente qual a importância e o peso que tem a livre circulação das ideias que impulsionam e suportam a evolução.
Consideramos por todas as razões e factos enumera-dos um livro vivamente aconselhável e a descobrir que navega pelas águas da reflexão, Biografia histórica, Pedagogia, Didáctica, Educação, Teologia ecuménica cosmocrata, Filosofia, Direito, Política, Retórica, Fotografia, Arte e Literatura. Sempre em sentido ascensional.
Basta ler, escutar, sentir e conseguimos ver.
Kanimambo Delmar Domingos de Carvalho. Bayete!!!



DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

ROSA VAZ - A CULTORA DOS AFECTOS




ROSA VAZ – A PINTORA CULTORA DE AFECTOS
DA ARTE AO ELOGIO
Escrevo eu, um vate Moçambicano encalhado na velha e histórica OLISIPO sobre a autenticidade dos feitiços da arte da pintura e cerâmica de um imbondeiro Angolano Africano embrenhado na Minhota e também histórica BRACARA AUGUSTA e que dá pelo belo nome de uma flor: ROSA, quase sempre como que “simbolicamente” rodeada de espinhos protectores marcando, desde logo, a diferença.
Na verdade nunca me foi difícil como poeta pôr em prática a arte do elogio com os confrades das artes e vates. Mas como amante da verdadeira arte e da poesia nela contida em especial, aprendi a torcer o nariz, negando o elogio ou julgamento fácil porque sempre odiei a bajulação reinante nesta esfera humana do caos. Uma convencionada e regrada espécie de troca de favores de que me demarco.
É aí que nasce e surge rebelde e livre, com asas, a crítica sincera mas invariavelmente vertical, séria, descomprometida e rigorosa. A arte pela arte.
Separe-se, pois, o trigo do joio , que nem tudo é arte nem tudo é poesia e nem tudo é engenho e excelência. Ah, mas aqui há e é das entranhas de África!
Ao olhar para a pintura desta “feiticeira” das policromias encantatórias da África e da Angola profundas lembro-me por deferência da poesia das cores dos Mestres da pérola do Índico ROBERTO CHICHORRO e BERTINA LOPES e da policromia geométrica do Mestre Angolano ELEUTÉRIO SANCHES. Nada que apague a já longa caminhada criativa singular de autenticidade no estudo, na espontaneidade e perseverança de Rosa Vaz , carregada de uma orgia de cores e tilintar de batuques .
Indiscutivelmente a sensualidade encalorada das mulheres dos trópicos transparece convidando-nos ao deleite e alimentando nosso olhar esfomeado da intensidade da poesia das cores. Lembrando-nos a nós (de outras luas de poesia) que vivemos neste pedaço de céu da generosa Península Ibérica que estamos na Europa, junto ao Atlântico, e que somos orgulhosamente pedaços de pau preto de África disseminados pelo mundo (de onde ambos somos provenientes na geografia humana). Uma diferença que só nos enriquece e ainda mais na Arte.
Os seus trabalhos pictóricos policromáticos de qualidade inegável sintetizam-na e transcendem-na. A poesia das cores, o sonho na poesia, a realidade, a nostalgia e o automatismo psíquico estão indesmentivelmente na origem da concepção de toda a sua obra, quer na pintura quer na cerâmica atingindo a excelência dos Mestres.
O grito da África profunda lá está e não engana.
Bayete.

DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)



ANTOLOGÍA HETEROGÉNEA DE POESÍA,PROSA POÉTICA Y MICRORELATO "Alquimia del fuego"



                                        FUEGO DE LA VERDAD
               Madre
               arde en mí
               el fuego de la verdad
               nada
               ni nadie
               me podrá salvar
               porque la mentira
               es el rostro de los hombres
               que fundan la ciudad.

           Delmar Maia Gonçalves
   






ANTOLOGÍA HETEROGÉNEA DE POESÍA,PROSA POÉTICA Y MICRORELATO "Alquimia del fuego"




                               SILENCIO EN LLAMAS

Cuando el silencio
produce silencio
veo el silencio encendido
gritar en el silencio.

Delmar Maia Gonçalves