quinta-feira, 31 de março de 2011

Sem Título

Assaltam-me dúvidas neste mundo belo e cruel Com a fadiga dos tempos Só receio ter de injectar por conveniência pinceladas de prazer para aniquilar a monotonia pregando enfim um tiro certeiro na palavra tristeza!

sexta-feira, 18 de março de 2011

A propósito do Mestre Malangatana


Embora acredite no princípio de que "Errare humanum est", lamento muito que ontem como hoje , e em múltiplas ocasiões tivesse havido e ainda haja aproveitamento eficaz da morte alheia . Num abrir e fechar de olhos , "estranhos" se transformaram em íntimos . Da inveja à admiração foi um pequeno passo ,não é ? É mais fácil desde sempre admirar os mortos! Em vida seria para alguns detentor de um poço de defeitos ,na morte passara a ser depositário de um mar de virtudes ! Muita lágrima foi vertida .Mas de tristeza sincera ou de alegria "encapotada" ? Mas , estas lágrimas não foram mais que um ensaio das do verdadeiro "crocodilo" .No íntimo alguns até rejubilaram !Mas fizeram questão de marcar uma presença vincada.Um "modus procedendi" lamentável! Depois há as carpideiras do costume , o filme habitual . Dir-se-ia que é uma tradição intemporal global instituída ! Como diz um velho adágio popular Africano : " Quando as hienas choram demasiado , estão a rir-se às gargalhadas ou porventura , riem -se a bandeiras despregadas !" Conheci o Mestre Malangatana e com ele estive nalgumas ocasiões , infelizmente não tantas como desejaria ! E é indubitável que era um grande Artista Plástico , com dimensão internacional .Mas nada mais posso acrescentar ! Tudo o resto seria pura especulação!!!

Um tiro no escuro

Sou muito mau!
Mas muito mau mesmo!!
Pedem-me um favor e não sou capaz de dizer não!
Prometem-me coisas e ainda acredito nas pessoas ou em promessas vãs(?) , apesar de saber bem lá no íntimo que mentem ou que jamais as cumprirão.
Mentem-me e quando me pedem desculpas ou porventura me apresentam razões que considero plausíveis,razoáveis, logo esqueço!
E volta o velho Fado: "Voltei a ser enganado!"
Pedem-me contactos e dou-os sem hesitar .
Quando finalmente , se fazem os habituais agradecimentos da praxe , nem se lembram da minha humilde e ignota existência .
Quem se lembraria deste modesto híbrido ?
Eu que até sou estrangeiro de mim próprio ?
Na verdade , eu não tenho coração .Logo , não sofro!!!
Sou muito ,mas muito mau mesmo!!!
Mais um sofrimento não me fará concerteza diferença , é só mais um!
E estarei sempre , obviamente disponível para sofrer , de tão cruel , masoquista e desumano que sou.
Sou mesmo mau! Mas muito mau mesmo!!!


Delmar Maia Gonçalves

Entendeste?

Entendeste?
Se não entendeste
faz que entendeste
para que eu entenda
que tu entendeste.
Entendeste?

Delmar Maia Gonçalves

Trabalho da Língua

Que trabalho prazeirento este,
o da Língua
Essa em que dizemos
com mãos e voz seguras
alinhos,desalinhos
atinos,desatinos
acertos,desacertos
vias e desvios!

Delmar Maia Gonçalves

A ( Des)construção - Peça por peça

Inicio
um Poema
Que construo
peça por peça
Rasuro-o (des)construindo-o
peça por peça
(Re)construindo
uma estrofe
de um verso
que (des)construí!


Delmar Maia Gonçalves

terça-feira, 8 de março de 2011

Não posso chorar...

Para a Matilde Rosa Araújo

Não posso
chorar mais
a ausência
das tuas mãos ternas,
da tua voz meiga e terna,
dos teus cabelos
da neve da sabedoria,
do teu olhar doce
de um sorriso amplexal.

Choro sim
tua ausência
de "corpo inteiro"!


Delmar Maia Gonçalves

O rosto da vergonha

Entro numa igreja Católica
e vorazes,os Homens
vão devorando a Bíblia
com estridentes
e convincentes
"Pai nosso que estais nos céus..."
Entretanto,junto à porta
uma criança vocifera
tremelicando faminta:
-Patrão,estou pidir...!
e tem 9 anos apenas
(Interessa o nome?)
Chama-se Matusse!
Este mundo belo,estranho e hostil
rejeita-o
É um " Pária" da sociedade que o gerou
Neste mundo brutal
que o acolheu
nunca teve um aceno de ternura
Esta alma virgem e impoluta
quer desesperadamente viver.
Mas quem se preocupa
em plantar nela
a semente da Esperança?
-Patrão,estou só pidir...!
E "nós" arrogantes e indiferentes
afastamo-nos!!!
Terminado o Sermão
do Senhor Cónego,retiramo-nos felizes
e aliviados da consciência pecadora.

No vôo passageiro do vento
depusemos o que de puro
e generoso há em "nós"!
Onde pára então o vento?
Em que casulo repousa?
Em que lugar etéreo
repousa "nossa" consciência?

Delmar Maia Gonçalves

Deixem-me...

Deixem-me
viver um Amor
contra tudo o que é vão
Deixem-me
ser o batuque
sem a eterna masturbação
dos batuques de guerra
Deixem-me
viver um Amor
que não caiba
em nenhuma definição
porque ao Amor
só caberia o infinito
Jamais poderia
ser circunscrito!
Queria um Amor
que fosse cantado
exaltado
e então,só então
seria feliz!!!

Delmar Maia Gonçalves

Interrogações

Dir-se-ia que
a morte,ela própria
conspira com os vivos
para eternizar os Poetas
permitindo deambulações efémeras
de Seres menores(Maioria)
entre Seres maiores(Minoria)!

Delmar Maia Gonçalves

Gostaria...

Gostaria
Gostaria de apreender
o vôo singular dos pássaros
os misteriosos mistérios da natureza
o eterno movimento das estrelas
e como os peixes "mágicos" deslizam nas águas!
Não sou mais que
um vago búzio de carne
e um céu sem nuvens!

Delmar Maia Gonçalves