segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A adesão de Moçambique a Commonwealth como acto de soberania e afirmação internacional

Nunca Portugal reagira de forma tão dramática e paternalista em relação às ex-colónias como agora que Moçambique decidiu aderir a Commonwealth.
Acto de resto legítimo de um Estado soberano e independente. Mas Portugal não está isento de culpas no processo que conduziu Moçambique a aderir à comunidade de língua inglesa. Este exercício de adesão merece-me duas leituras:
1º - Moçambique precisa de refazer o seu tecido social e para que tal se concretize é necessário um maior e melhor apoio económico que permita depois um desenvolvimento mais acelerado com resultados imediatos e que Portugal não pode garantir neste momento;
2º como país independente e soberano tem necessidade de se afirmar no panorama internacional até para renovação de uma imagem algo desgastada pela guerra e tem também o direito de se tomar o rumo que achar certo para o bem do seu povo. Não se trata pois de substituir o português pelo inglês.
Não é por acaso que o deputado da FRELIMO Coronel Sérgio Vieira afirmou ser de felicitar o governo no exercício de adesão a Commonwealth, de criação do Espaço dos Sete Países de Língua Portuguesa, de elevar o estatuto do país na francofonia, de investir numa presença no Índico e potenciar a participação na Comunidade Islâmica.
Como podem facilmente verificar o governo moçambicano nunca pensou em substituir o português pelo inglês. Como se poderia implantar o uso de uma língua sem antecedentes históricos na população? Com que recursos? E quem apoiaria essa medida? Como se poderia impedir a ascensão no partido do governo, nos outros partidos e no Estado dos poucos utentes dessa língua ou que a dominam? É que a sua vantagem política seria inaceitável. Qual seria a validade da proposta? Quanto tempo levaria a implementar-se? Quantos moçambicanos estariam dispostos a deixar de escrever por decreto em português para passarem a fazê-lo em inglês? Não se estaria a fomentar a cisão entre os moçambicanos? Enfim, só os portugueses insistem em ser cegos quando deviam passar das palavras à acção. Acção essa que passa pela consolidação e reforço da cooperação nos domínios da educação e cultura com os PALOP.

In Revista "Africa Hoje" nº94
Delmar Maia Gonçalves
Lisboa, Abril de 1996.

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