A trajectória de um país e o enquadramento rumo à melhoria das condições sócio-económicas.
Completaram-se, no dia 25 de Junho deste ano, 39 anos sobre a constituição da Frelimo, actualmente um partido no poder, mas outrora um movimento de libertação, depois de muitos anos de luta armada contra o colonialismo da ditadura instalada em Lisboa e de alguns anos de combate a dissidências internas mais ou menos violentas, ao Movimento de Resistência Moçambicano de André Matsangaíssa e mais tarde de Afonso Marceta Dhlakama e Evo Fernandes, às incursões de mercenários enviados por Ian Smith da Rodésia (actual Zimbabwe) e aos raids sul-africanos (do regime do Apartheid).
Na verdade, foi naquela data que diversas forças políticas moçambicanas antifascistas e anticolonialistas (Udenamo, Manu e Unami) se fundiram numa plataforma unitária tendo em vista uma maior eficácia no objectivo prioritário que a todos animava independentemente de divergências de ordem ideológica, rácica, tribal, social ou estratégica. Constituída sob a presidência respeitada de Eduardo Chivambo Mondlane e a vice-presidência de Uria Simango (mais tarde destituído) e Marcelino dos Santos, a Frelimo iniciou a luta armada em 25 de Setembro de 1964, na província de Cabo Delgado. Desde essa altura, morreram em combate valorosos guerrilheiros e heróis, como Filipe Samuel Magaia, Paulo Samuel Kamkomba, para só citar alguns e Josina Machel (esta por doença).
Posteriormente, a guerra alargou-se a vastas zonas do Niassa e também a Tete, quando Eduardo Mondlane morreu, vítima de um atentado terrorista, com uma encomenda armadilhada, em 1969, atentado esse que foi desde logo atribuido à Pide. Especulou-se ainda que o mesmo resultou de problemas internos da Frelimo, hipótese essa que não se confirmou, mas ainda hoje subsiste a dúvida: quem matou Eduardo Chivambo Mondlane? Como foi possivel este assassinato? A mando de quem se concretizou? Com que cumplicidades?
Com o desaparecimento de Mondlane e a ascensão ao poder de Samora Machel, Uria Simango e Marcelino dos Santos, em Maio de 1970, a Frelimo inicia uma movimentação mais ofensiva, que virá a expandir-se consideravelmente aquando da contra-ofensiva às megalomanias militares do general português Kaúlza de Arriaga, então comandante em Moçambique. Mais tarde Uria Simango é afastado do triunvirato por divergências consideradas irredutíveis. Depois seria preso e executado.
Chegado o 25 de Abril de 1974, a situação politico-militar em Moçambique era francamente preocupante para as autoridades portuguesas, nomeadamente porque a guerrilha da Frelimo se alargava já à vizinhança das cidades da Beira (junto ao mar) e de Chimoio (então Vila Pery) fronteira com a então Rodésia, actual Zimbabwe, o que significava a ameaça de corte do país ao meio, isolando os distritos do sul de todo o imenso norte e estrangulando, na prática, a chave símbolo do último grande esforço colonial português em Moçambique - a Barragem de Cabora Bassa situada no Zambeze na província de Tete.
Vinte e sete anos passados sobre a independência, as relações com a antiga potência colonial são exemplares, pese embora a morte misteriosa do saudoso presidente Samora Machel, um dos grandes impulsionadores dessas relações, em 1986, e a mudança de regime político ocorrida em 1993 e com a realização das primeiras eleições pluripartidárias em 1994 mas aparentemente decidida muito antes.
Mas, vinte e sete anos passados, há também que reconhecer que moçambique se encontra ainda muito longe das metas de progresso e bem-estar visionadas com a independência e que também por isso a renovada Frelimo de Joaquim Chissano no poder e os novos partidos políticos emergentes, incluindo a Renamo de Afonso Marceta Dhlakama, enfrentam uma luta diferente, mas comum para todos os moçambicanos: a luta pelo desenvolvimento de Moçambique em paz.
As calamidades naturais cíclicas são um obstáculo dificil de enfrentar num país que procura reerguer-se, terá de se trabalhar na prevenção, e no combate contra a Sida e os investimentos na educação deverão ser prioritários, as condições sócio-económicas deverão melhorar com um modelo de desenvolvimento democrático que sirva à realidade africana.
In Revista "Lusofonia" nº21 em 2001.
In Jornal "Voz do Olhar" em 21 de Setembro de 1995
Delmar Maia Gonçalves
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