POSFÁCIO
Sobre a ANTOLOGIA POÉTICA “NA
MARGEM DO SILÊNCIO E ALGUMA ABSTRACÇÃO”
Uma Jornada poético-literária dos
afectos de longo curso
Pediu-me o Poeta LINO MUKURRUZA
que escrevesse um posfácio desta interessante Antologia. Uma grande empreitada
que assinalo, de que muito me orgulho e me apraz registar.
Sem querer diminuir ou excluir
ninguém, pois são todos igualmente importantes e indispensáveis e sendo um
espírito livre, destacaria sem dúvida a nova vaga de jovens escritores e poetas
Moçambicanos que representam inegavelmente o porvir da Literatura Moçambicana :
MUKURRUZA ( o idealizador e coordenador
da obra), que bons olhos o vejam e guardem; TARUMA ; ARIJUANE; QUIVE; MUCAVELE;
JOSHUA; DAU; LINEU; LEVENE; MILITAR; WAMBIRE, entre outros (kanimambo vida que
os trouxe aos meus sentidos), cuja verve
revolve as entranhas da Moçambicanidade e “revoluciona” e renova a poética Moçambicana e quiçá das comunidades que se expressam
na Língua Portuguesa escrita e também falada e cantada.
ANDRÉ BRETON tinha razão quando
afirmou insistentemente que a escrita automática é um dos meios mais seguros
para devolver à palavra a sua inocência e o seu poder criador original. Já os
Poetas VIRGINIA WOOLF e RAINER MARIA RILKE haviam falado dessa necessidade.
E como precisamos de um olhar despretensioso,
descomplexado, renovado, renovador e desempoeirado na poesia…! Alguém duvida?
Basta ler, escutar, sentir e
conseguimos ver.
Como disse ABDUL KARIM “Um
anarquismo integral de produção natural, será a forma que se antevê irá ser
escolhida pela humanidade emancipada.”
Todos sabemos que o pensamento
globalizante ou globalizado tem sido massivamente impregnado e perversamente
estruturado pela lógica do “terceiro excluído”, dito por outras palavras pela
lógica da disjunção e da exclusão. Mas nós sabemos também que a vida não deve
funcionar segundo esta lógica. Há outros caminhos e a nossa incerteza é a nossa
certeza.
Ninguém duvide portanto, digo eu
, que a inteligência dos Poetas precisa
de viver num mundo mais amplo do que aquele que nos oferecem.
No fundo a liberdade criativa
empurra-nos para a ideia de ANA HATHERLY que afirma “Tornei a minha escrita ilegível,
a fim de poder observá-la apenas gestualmente.”É preciso humildade para que tal
suceda. Apagar-se sem desaparecer para iluminar a palavra.
Nos cruzamentos encontros,
desencontros e reencontros a poesia se faz respiração.
Poeta quer dizer possesso. Não
devemos confundir os artistas do verso com os criadores da poesia. Os primeiros
interessam somente à Literatura, ao passo que os segundos têm um interesse indubitavelmente
vital e universal como uma flor silvestre ou uma estrela polar.
Os jovens Poetas e Escritores Moçambicanos
já deram o prolífico grito poético que não é do Ipiranga mas será certamente de
Lichinga, de Maputo, de Quelimane, da Beira, de Nampula, de Inhambane, de Xai
-Xai, de Tete, de Pemba, de Chimoio e que fraternalmente abraçam como um
ciclone de poesia em fogo Angola, Brasil e Portugal.
São estas pontes que potenciam o
fluir frutuoso das margens onde se juntam vozes, discursos e sensibilidades múltiplas
e diversas ligando três continentes (África, América e Europa). A palavra escrita
será sempre ouro para o futuro se a semente for lançada em território fértil.
Que a poesia fale e cante sobre o milagre criativo e da vida que é magia pura e
transparência enigmática.
Embora como vate moçambicano na diáspora
reconheça que meu barco navega sem proa tal como a fértil e prolífica poesia
Moçambicana de que me reivindico migalha, é órfã de três bússolas icónicas incomparáveis:
NOÉMIA DE SOUSA, JOSÉ CRAVEIRINHA e EDUARDO
WHITE. Mas são essas mesmas bússolas que servem de orientação para que
as pontes aconteçam e fluam em jangadas de poesia em brasa, como esta Antologia
cujo mérito deve ser atribuído por completo ao vate MUKURRUZA.
Indiscutivelmente somos sem rebuço o que comemos.
Ficará pois nas encruzilhadas o
aviso às opiniões e juízos de críticos altivos e pretensiosos que se
autodenominam eruditos, de que a poesia não tem amos. O que vem da alma
criativa não pode ser acelerado desregradamente em lume brando mas também não
pode ser precocemente cerceado da liberdade do parto. Como disse o Poeta
Português ANTÓNIO MARIA LISBOA : “A seta já contém o alvo, mas só percorre a
seta aquele que lhe conhece o alvo ; assim é de olhos vendados que o grande
atirador alveja.”
Ninguém é marginal ou paralelo a
nada, principalmente na Literatura.
Bayete Poetas!
DELMAR MAIA GONÇALVES
(ESCRITOR e PRESIDENTE DO CÍRCULO
DE ESCRITORES MOÇAMBICANOS NA DIÁSPORA)
Sem comentários:
Enviar um comentário