sexta-feira, 3 de abril de 2015

"Ian Amos Komenský (Coménio)" de Delmar Domingos de Carvalho



Ao ser convidado pelo autor para escrever o prefácio deste valioso livro sobre esta admirável, singular e incomparável personalidade visionária e cosmocrata, com vastíssima formação e qualidades excepcionais, senti-me honrado e feliz. Só podia ser assim, pois razões há-as de sobra.
Comenius é uma daquelas raras personagens da história da humanidade que vale a pena conhecer, ou revisitar, até pelo seu brilhante exemplo de honestidade, coragem, coerência, abnegação e tenacidade. É importante que não nos esqueçamos do contexto e da época conturbada e de enorme intolerância que viveu, além de uma infância marcada por tragédias e dramática solidão.
Julgo ter sido a forma ágil, paciente e sábia como filtrou e absorveu tudo isto e soube inverter a flecha do infortúnio através do cultivo da sabedoria interior que potenciou e desenvolveu, que o tornou num ser raro e extraordinário.
Tantas são as qualidades desta personagem única que se torna difícil enumerá-las.
Vistas bem as coisas de todos os prismas, acaba por ser um empreendimento de grande mérito esta ambiciosa iniciativa editorial do humanista e escritor português Delmar Domingos de Carvalho, prontamente abraçada e apoia-da pela CEMD EDIÇÕES, de convocá-lo para a actualidade num momento particularmente crítico da sociedade em que a palavra crise ganhou uma dimensão que ultrapassa em muito a área económica e atravessa todas as esferas do seu funcionamento e a palavra de ordem é a globalização económica e dos saberes.
E, no entanto, estranhamente caracterizada por muitos avanços e retrocessos, fruto da ganância, egoísmo e ignorância humanas.
Por isso é sem dúvida de saudar e acarinhar o ressuscitamento/ ressurgimento de exemplos concretos de homens que marcaram a diferença em épocas tão ou mais difíceis contribuindo hoje, mais do que nunca, pelo seu exemplo como forma de encorajamento às novas gerações que actual-mente vivem uma impressionante crise de valores, espelho da sociedade em que vivemos e que construímos, sem sentido crítico ou autocrítico, pese embora todas as conquistas alcançadas no progresso da humanidade em todas as áreas.
Como dizia com razão e bem Benjamin Constant “Não acreditamos em nada do que afirma uma autoridade que não permite que se lhe responda.”
Claramente sempre nos faltou tempo para uma aprendizagem da aprendizagem. Chegou pois a hora de fazê-lo retomando o caminho já iniciado no passado.
A aprendizagem é contínua e para a vida
Só um ser humano com a grandeza incomparável e inquestionável como COMENIUS seria capaz de escrever “De rerum  humanarum emendatione consolatio catolica”.
Atentemos a profundeza e grandiosidade desta alma de luz e do seu pensamento: “Por consequência, se quisermos que a desumanidade dê lugar à humanidade, devemos procurar incessantemente os meios de atingir esse objectivo. Esses meios são em número de três: Em primeiro lugar, os homens devem cessar de confiar demasiado nos sentidos e, atendendo à comum fragilidade humana, devem reconhecer que é indigno sobrecarregarem-se mutuamente de ódio por razões fúteis; deverão de um modo geral, perdoar-se as lutas, danos e ofensas do passado. Chamaremos a isso apagar o passado. Em segundo lugar, ninguém deverá impor os seus princípios (filosóficos, teológicos ou políticos) a quem quer que seja, pelo contrário, cada um deverá permitir a todos os outros que façam valer as suas opiniões e que gozem em paz aquilo que lhes pertence. Chamaremos a isso tolerância mútua. Em terceiro lugar, todos os homens deverão tentar, num esforço comum, perceber o que é preferível fazer e para o conseguir, devem conjugar as suas reflexões, as suas aspirações e as suas acções. É aquilo a que chamaremos conciliação.”
Fabuloso legado ao futuro. Um Testamento visionário, um autêntico Tratado do Humanismo.
E COMENIUS pagou caro por ser um “visionário” demasiado avançado para o seu tempo, um autêntico ladrilhador do grande empreendimento humano, pois sabia que se negavam as verdades que eram necessárias à sociedade para que as ciências florescessem e se disseminassem. Sabia também exactamente qual a importância e o peso que tem a livre circulação das ideias que impulsionam e suportam a evolução.
Consideramos por todas as razões e factos enumera-dos um livro vivamente aconselhável e a descobrir que navega pelas águas da reflexão, Biografia histórica, Pedagogia, Didáctica, Educação, Teologia ecuménica cosmocrata, Filosofia, Direito, Política, Retórica, Fotografia, Arte e Literatura. Sempre em sentido ascensional.
Basta ler, escutar, sentir e conseguimos ver.
Kanimambo Delmar Domingos de Carvalho. Bayete!!!



DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

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