Ao ser convidado pelo
autor para escrever o prefácio deste valioso livro sobre esta admirável,
singular e incomparável personalidade visionária e cosmocrata, com vastíssima
formação e qualidades excepcionais, senti-me honrado e feliz. Só podia ser
assim, pois razões há-as de sobra.
Comenius é uma daquelas
raras personagens da história da humanidade que vale a pena conhecer, ou
revisitar, até pelo seu brilhante exemplo de honestidade, coragem, coerência,
abnegação e tenacidade. É importante que não nos esqueçamos do contexto e da
época conturbada e de enorme intolerância que viveu, além de uma infância marcada
por tragédias e dramática solidão.
Julgo ter sido a forma
ágil, paciente e sábia como filtrou e absorveu tudo isto e soube inverter a
flecha do infortúnio através do cultivo da sabedoria interior que potenciou e
desenvolveu, que o tornou num ser raro e extraordinário.
Tantas são as qualidades
desta personagem única que se torna difícil enumerá-las.
Vistas bem as coisas de
todos os prismas, acaba por ser um empreendimento de grande mérito esta ambiciosa
iniciativa editorial do humanista e escritor português Delmar Domingos de Carvalho,
prontamente abraçada e apoia-da pela CEMD EDIÇÕES, de convocá-lo para a
actualidade num momento particularmente crítico da sociedade em que a palavra
crise ganhou uma dimensão que ultrapassa em muito a área económica e atravessa
todas as esferas do seu funcionamento e a palavra de ordem é a globalização económica
e dos saberes.
E, no entanto,
estranhamente caracterizada por muitos avanços e retrocessos, fruto da ganância,
egoísmo e ignorância humanas.
Por isso é sem dúvida de
saudar e acarinhar o ressuscitamento/ ressurgimento de exemplos concretos de
homens que marcaram a diferença em épocas tão ou mais difíceis contribuindo
hoje, mais do que nunca, pelo seu exemplo como forma de encorajamento às novas
gerações que actual-mente vivem uma impressionante crise de valores, espelho da
sociedade em que vivemos e que construímos, sem sentido crítico ou autocrítico,
pese embora todas as conquistas alcançadas no progresso da humanidade em todas
as áreas.
Como dizia com razão e
bem Benjamin Constant “Não acreditamos em
nada do que afirma uma autoridade que não permite que se lhe responda.”
Claramente sempre nos
faltou tempo para uma aprendizagem da aprendizagem. Chegou pois a hora de
fazê-lo retomando o caminho já iniciado no passado.
A aprendizagem é contínua
e para a vida
Só um ser humano com a
grandeza incomparável e inquestionável como COMENIUS seria capaz de escrever “De rerum
humanarum emendatione consolatio catolica”.
Atentemos a profundeza e
grandiosidade desta alma de luz e do seu pensamento: “Por consequência, se
quisermos que a desumanidade dê lugar à humanidade, devemos procurar
incessantemente os meios de atingir esse objectivo. Esses meios são em número
de três: Em primeiro lugar, os homens devem cessar de confiar demasiado nos
sentidos e, atendendo à comum fragilidade humana, devem reconhecer que é
indigno sobrecarregarem-se mutuamente de ódio por razões fúteis; deverão de um modo
geral, perdoar-se as lutas, danos e ofensas do passado. Chamaremos a isso apagar
o passado. Em segundo lugar, ninguém deverá impor os seus princípios
(filosóficos, teológicos ou políticos) a quem quer que seja, pelo contrário,
cada um deverá permitir a todos os outros que façam valer as suas opiniões e
que gozem em paz aquilo que lhes pertence. Chamaremos a isso tolerância mútua.
Em terceiro lugar, todos os homens deverão tentar, num esforço comum, perceber
o que é preferível fazer e para o conseguir, devem conjugar as suas reflexões,
as suas aspirações e as suas acções. É aquilo a que chamaremos conciliação.”
Fabuloso legado ao
futuro. Um Testamento visionário, um autêntico Tratado do Humanismo.
E COMENIUS pagou caro por
ser um “visionário” demasiado avançado para o seu tempo, um autêntico ladrilhador
do grande empreendimento humano, pois sabia que se negavam as verdades que eram
necessárias à sociedade para que as ciências florescessem e se disseminassem.
Sabia também exactamente qual a importância e o peso que tem a livre circulação
das ideias que impulsionam e suportam a evolução.
Consideramos por todas as
razões e factos enumera-dos um livro vivamente aconselhável e a descobrir que
navega pelas águas da reflexão, Biografia histórica, Pedagogia, Didáctica,
Educação, Teologia ecuménica cosmocrata, Filosofia, Direito, Política,
Retórica, Fotografia, Arte e Literatura. Sempre em sentido ascensional.
Basta ler, escutar,
sentir e conseguimos ver.
Kanimambo Delmar Domingos
de Carvalho. Bayete!!!
DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do
Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)
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