Enquanto em Angola ainda se tentam limar arestas para a resolução definitiva do conflito, em Moçambique, uma vez ultrapassados os possíveis obstáculos à paz (realização de eleições legislativas multipartidárias e presidenciais, acordo para a formação das novas forças armadas e formação da nova polícia), aguardam-se as eleições autárquicas.
Entretanto, lamentavelmente surgiu um debate polémico, em torno da questão da morte de Lázaro Kavandame, ex-militante da FRELIMO e supostamente executado por traição, pela própria FRELIMO.
Num momento crucial para o fortalecimento das instituições democráticas de Moçambique e da paz, ainda há pessoas que teimam em prejudicar o processo desenterrando "velhos fantasmas", que em nada ajudarão na reconciliação nacional. Com o devido respeito que tenho pelos familires das vítimas, não será tempo de nos preocuparmos com o desenvolvimento do nosso país e com a manutenção da paz, em vez de alimentarmos factores de divisão que só fazem renascer os ódios e as sedes de vingança?
É preciso não esquecer que ficaram muitas mortes e actos de violência por explicar e entender (da guerra colonial, dos "raids" sul-africanos, dos mercenários de Ian Smith e da guerra entre a FRELIMO e a RENAMO), mas e que adiantaria num momento destes provocarem-se debates deste tipo? Por vezes, fedem que enojam!
Não nos bastam as zonas rurais ainda minadas, e a ainda não resolvida questão dos esconderijos de armas como o de Marínguè, que já dão dores de cabeça aos verdadeiros interessados na paz e desenvolvimento de Moçambique?
Por Deus, deixem de brincar com o povo moçambicano!
Delmar Maia Gonçalves
In Revista "África Today" nº91
Lisboa, Janeiro de 1996.
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