sexta-feira, 7 de março de 2014

Texto de contracapa do livro "Poalha de MossaM'Biki" de Ribeiro-Canotilho


Ribeiro-Canotilho, um vate moçambicano, das artes e das letras, ancorado em terras lusas, navega no mar Atlântico fisicamente e  no Índico espiritualmente. 

Sua poesia carrega  a força das palavras Lusófonas, impregnadas dum lirismo europeu clássico e, simultaneamente, emprenhadas de moçambicanidade. Memórias zambezianas, laurentinas e lusas, de quem as guarda religiosamente e que se cruzam e se casam harmoniosamente nesta sua obra Poalha de Mussam’Biki. 

Bayete para o Poeta!


Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

Nota Editorial da Revista Cultural Licungo nº1



A revista cultural Licungo, de carácter semestral, literariamente coordenada por mim e pela segunda vez editada, (re)nasce renovada no seio do CEMD Edições. Inequivocamente de uma grande vontade de irmos mais além nos nosso objectivos previamente definidos.
A construção de pontes, hoje, mais do que uma vontade, é já uma certeza e a solidez com que se alicerça, uma enorme convicção. Só se constrói Lusofonia desta forma, com projectos que se concretizam, que envolvem e entusiasmam todos os protagonistas. E a promoção dos autores moçambicanos, vai sendo reforçada e acarinhada, cumprindo o velho sonho que sempre tive enquanto fundador deste Círculo de Escritores. Não poderei de mencionar o enorme e apurado trabalho gráfico, estético e organizacional da poeta portuguesa Vera Novo Fornelos e da excelente artista plástica moçambicana Lara Guerra e as cordiais relações de cumplicidade humana que nos unem, prova viva da lusofonia. Continuo a acreditar firmemente que neste “poema” chamado lusofonia, os oceanos que nos separam trar-nos-ão sempre o barco que nos une. Num universo que se unifica diariamente faz sentido a composição no sentido de mutuamente nos enriquecermos na diferença. Cumpramos, pois, a Lusofonia.

Delmar Maia Gonçalves

(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

Nota editorial da Revista Cultural Milandos da Diáspora



O Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora inicia com esta edição em revista literária (formato de livro), um ciclo que marcará a nossa associação e o departamento editorial da mesma.
Na verdade, antes desta publicação, já havíamos editado o Boletim “Milandos da Diáspora 2012” e apresentado no IV Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora.
É nestas pequenas realizações, que se poderá construir Lusofonia, sem esquecermos nunca a ambição de irmos mais longe. A Lusofonia não pode viver de palavras.
Por outro lado, a aposta na Língua Portuguesa não deve significar o desprezo e o desinvestimento nas outras línguas “nacionais” de todo o espaço Lusófono, nomeadamente, em Angola, Moçambique, Guiné-
Bissau, Brasil, Timor-Leste, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Galiza, Macau, Goa e Portugal (lembram-se do Mirandês?).
Os linguistas, professores, investigadores e, sobretudo os poetas e escritores, têm uma grande responsabilidade perante os seus povos e países.
Devem dar um contributo para o desenvolvimento das línguas nacionais, empreendendo um trabalho aturado de escrita, para o que deverá contribuir e muito, por exemplo, a Língua Portuguesa.
Congratulamo-nos pois, com a colaboração neste número, de todos os autores amigos de Moçambique e dos Moçambicanos. Nas nossas diferenças reside a nossa grande riqueza.

Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente da direcção do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

BREVE NOTA INTRODUTÓRIA da Antologia dos Silêncios que Cantamos



Ao publicarmos esta Antologia Dos Silêncios que Cantamos, concluímos com sucesso a construção da ponte da palavra que iniciámos com as apresentações anteriores da Antologia Universal Lusófona Rio dos Bons Sinais e as Revistas Milandos da Diáspora e Licungo, que já incluíam autores moçambicanos na diáspora e na pátria mãe.
Um esforço fraterno que vai de encontro aos objectivos definidos pelo CEMD e dos quais não abdicaremos. Acre-ditamos firmemente, que as palavras são sempre reveladoras, mas os silêncios também.
Esperamos que esta antologia deixe marcas nas águas índicas da palavra e que os caminhos atlânticos se continuem a cruzar nos vates do Índico. Sendo certo, que a travessia se tornará mais deslizante e profícua, cantemos, então,  a beleza e o espanto, pois solitários permaneceremos.

Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora)

Apresentação da Antologia Luiz Vaz de Camões e convidados


Uma homenagem ao poeta-mor e maior de Portugal significa responsabilidades acrescidas. E a Literarte assumiu esse compromisso por amor à poesia e à língua portuguesa, falada e escrita nos quatro cantos do mundo. A arte traz consigo sempre a certeza das incertezas. Mas é aí que reside o belo. Porque os poetas não podem, nem devem jamais, perder a virtude da beleza e do espanto permanente, é preciso crer, é preciso acreditar.
E na poesia abundam as palavras doces e sensatas para atenuar as amarguras, como recorda o velho e sábio provérbio africano: «As palavras sensatas são como a cana-de-açúcar que não se deixa de sugar; o seu sabor não se pode esgotar.»
A diversidade criativa, Literária e estilística é uma bênção que só através de ambiciosos e independentes projetos como os da Literarte, se poderão potenciar e desenvolver, para finalmente se afirmarem.
«As palavras deixaram de jogar, as palavras fazem o amor», já dizia André Breton e aqui se confirma neste Encontro/Reencontro de vozes heterogéneas confirmando também outro poeta maior, Fernando Pessoa, «Para ser grande sê inteiro».
Da janela Ibérica do Atlântico, o Índico abraça o imenso oceano da Língua Portuguesa, concretizando a Lusofonia. E é quando estou na poesia, que tudo, mas tudo, me parece profundamente claro.


Delmar Maia Gonçalves
(Escritor ,Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora -CEMD e Conselheiro da Literarte para Moçambique)
  

Prefácio do livro " A Lua de N'Weti" de Sónia Sultuane


PREFÁCIO
Por DELMAR MAIA GONÇALVES
Dizia-me a Autora deste belíssimo livro, escrito numa linguagem acessível, simples e cristalina, podendo afirmar-se mesmo, que perpassa a candura e a inocência poética da infância (que é o centro crucial do furacão da vida), e que vivamente recomendo, como quem me segreda sabiamente o   silêncio das pedras que gritam e só o coração responde, que tinha de ser “eu” o prefaciador, assim mesmo como um pássaro que assobia aos seixos.
Obrigado digo eu vida que me trouxe aos meus sentidos!
Com uma sensibilidade à flor da pele, guiada pela lua, escreveu a história que dedica a filha que não teve. Não tenho dúvidas que se trata de uma poética “declaração” de amor incondicional à lua. A lua que cabe nas mãos do mundo que a abraça e ampara permanentemente, incondicionalmente.
Não falarei pois do Livro ou da história, mas irei deixando marcas nas águas índicas deste e da sua Autora, um pouco  como os irmãos moçambicanos de etnia Makonde, que sabem que havendo uma aura de mistério e segredo rodeando  a preparação das  máscaras e a dança propriamente dita, sendo, por  exemplo, importante que  não se  saiba   a identidade  do dançarino, todos querem ficar para   descobri-lo.
Ela  murmura esse segredo aos quatro ventos “lunares” e conta-nos  como quem guarda muitas crianças dentro de si e precisa de respirá-las. Diga-se de passagem, que, sempre  cúmplice,  adormece ao colo da lua que a aconchega e serena. Há algo de mágico e revigorante neste “ritual”.
A lua faz parte desde sempre das mitologias das grandes civilizações antigas, mas também das contemporâneas e está presente em múltiplos aspectos e questões fundamentais das sociedades modernas, atravessando mares e oceanos, percorrendo continentes.
E quantas vezes não ouvimos falar dos mitos associados às noites de lua cheia?
O que dizer desta misteriosa relação de magnetismo puro que atrai amor, fascínio  e medo em simultâneo, e que dominava N’WETI?
Esta menina que teve sempre o coração dividido entre a  inocência pueril, a tradição mítica e a misteriosa, mágica, solitária e bela companhia  amiga da lua, que nos ilumina e renova.
Mas quantas vezes  não  nos acontece desvalorizarmos o que temos por garantido e valorizarmos apenas  o que não temos ou nos parece inacessível? E não é comum o temor ao desconhecido?
Só a vida e as circunstâncias ensinaram N’WETI que sentir a longa ausência da lua era como correr desesperadamente em volta de uma montanha e não encontrar a forma de lhe descobrir a passagem. E a planta da sua vida já não podia dispensar a presença e companhia reconfortante da lua.
Depois, dizem as lendas: «sempre que  a lua nasce, nasce também algures um pequeno “princípe” ou “princesa” que iluminará o mundo com seu perfume singular».
A lua banha-nos a alma e a esperança adormecida.
Não nos esqueçamos nunca que as lendas são a poesia da história. Poderíamos viver sem elas?
Como dizia e bem KAHLIL GIBRAN , «existe um espaço entre a imaginação do homem e a  sua realização, apenas transponível  pelo seu desejo».
Oxalá, então, que sejam muitos os que querem embrenhar-se nesta história, com poesia da lua. E que fique eu definitivamente calado como um pássaro Xirico sentado aos pés de uma pedra, a ver entrar decidida e magicamente pelo ar dentro das pessoas esta história acetinada de sensibilidade  da SÓNIA SULTUANE.
Karingana Ua Karingana…! Karingana!!!
Karingana Ua Karingana…! Karingana!!!
“A LUA DE N’WETI”

DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos - CEMD)


Prefácio do livro "A vida inspira-nos" do poeta angolano Márcio Batalha



Qualquer literatura tem o seu futuro assegurado quando possuí jovens autores a iniciarem-se na carreira literária. Doutra forma, que continuidade seria assegurada e quem a asseguraria? Afinal, Angola está viva, bem viva na Literatura  que produz com  o prolífico activismo cultural dos Jovens da Brigada.
O grito que aqui surge é o de um jovem escritor angolano, que,  sendo defensor do Status Quo, tem os olhos postos no futuro e sonha de olhos abertos um futuro melhor para Angola, com união, paz e harmonia e também a nível pessoal.
E quem disse que só auguram um futuro promissor apenas os defensores do caos? Também há as vozes da razão e do bom senso.
Depois, há o amor. Amor que o autor a todos tem para dar e nada mais. Nada mais? Muito mais, que o passado é um cadáver que deve ser arrumado  numa gaveta sem fundo e fechada a sete chaves para que o amor respire e ressurja com a força de um leão e à velocidade estonteante de uma impala e, finalmente, permanecer, mas como um furacão que nunca é violento, por isso, permanece sobrevivendo às tormentas. Com o amor tudo volta ao normal e o grito transforma-se em canto. Ouvem-no? Oiçam-no. Tem melodia e verve. É esta a força poética do verbo que este poeta nos transmite convidando-nos ao efeito de espelho.
Ao lermos com atenção cada um dos seus poemas, sentimo-nos convidados à auto-reflexão, assim como um “xirico”, que escuta melodiosas canções, que nos inquietam mais do que nos embalam. Não é o Ser Humano o buscador incessante da perfeição?
É que, até as máscaras da vida que usamos, são do mais profundo e labiríntico dos mistérios. E o erro? Quem disse que o erro não faz parte do nosso processo de crescimento e maturação?
Nunca nos esqueçamos que só poderemos julgar os outros pelo conhecimento que tivermos de nós mesmos. E quem disse que o amor é um projecto perfeito de adivinhação sem tormentos? Depois, bem dizia o poeta libanês Khalil Gibran “O homem é dois homens; um está acordado na escuridão, enquanto o outro dorme na luz”. Quase sempre o julgador está preso na cela do seu julgamento, enquanto o julgado expectante tem um amplexo aberto para partilhar. Por vezes, é preciso procurar todos os homens para nos conhecermos a nós mesmos.
Como dizia, mais uma vez Khalil Gibran“ A realidade do outro não está naquilo que te revela, mas naquilo que não pode revelar-te”.  Não é por acaso que se diz que os poetas são uma espécie de vendedores de passados que anunciam um futuro que não foi. E que é feito do presente? Na poesia não há impossíveis, também por isso “A Vida inspira-nos”. Basta que o/a leitor/a a devorem depois de esta alimentar insaciavelmente o inspirado Vate.
Bayete Poeta Márcio Batalha!
Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

A Poeta da Utopia



Bom seria, que eu, enquanto poeta e prefaciador, fosse capaz de resumir a força do verbo que esta poeta vianense transporta e transmite. E a força de natureza poético-literária pode ser travada? Bem o diz a poeta em “Culto Oculto” : “ouço os vossos pensamentos/… nada em vós me é oculto/ penetro no vosso culto” e remata “e o que era estranho e escuro/ ilumina-se num coração puro”.
Em que momento a poeta e sua poesia pungente não se fundem e confundem formando um “corpus” único? A fusão acontece com a intensidade poética de uma flauta, como afirma “Procurei o silêncio/ no meu silêncio/ e escutei uma flauta/ que vibrava intensamente/ não há silêncio/ no meu silêncio…”.
A sua estreia no singular como autora de obra individual, não a coíbe de convicta reafirmar o que facilmente descobrimos ao lê-la “uma jazida de ideias/ é o que eu sou (…) uma dualidade sinergética/ que faz surgir as ideias”.
Depois, há sempre o sabor titubeante e quimérico das palavras que se desfolham e desnudam. Por vezes, a ternura também fere e, por vezes, também encanta. Das memórias se fazem histórias e  das histórias, poesia. Por isso, profética, reclama “Não há um caminho/ meio andado/ nem dois por andar/ mas um destino/ ainda por chegar”.  São memórias de quem as guarda no baú da sua “meninice” e no auge da sua maturidade como um tesouro. E bem se define ao afirmar “Sou um livro/ publicado/ na mortalha/ de um cigarro/ queimado”.  A emoção à flor da pele, com a palavra certeira, como uma arma que procura o alvo sem ferir, mas evita o falhanço ao constatar “se parar para pensar/ vou ouvir o vento/ e se o vento for o pensamento/ vai voar/ vai se libertar/ das amarras do tempo”.
Sensibilidade poética, que capta a essência do poeta numa rajada ao resumi-la cantando “A alma dum poeta/ é feita da quinta essência do Universo/ é alma desfeita/ e refeita num só verso”. E quem pode mudar o destino de uma poeta que vive numa roleta oculta e, que, paciente, define “A espera” como “uma  lamparina/ que se incendeia/ de esperança”? Bem nos avisa como leitores atentos “Compreende/ o voo/ das aves/ não te detenhas/ na articulação/ das suas asas”.
E um ciclo novo se abre com esta obra, quimericamente objectiva, que nos alerta para o “Culto Oculto”. Haja, pois, um diálogo genuino entre o leitor e a autora da utopia convicta, pois “A vida/ segue/o seu percurso/ natural/ como um rio/ que fluí/ voluntariamente”.
Bayete Poeta!


Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)

terça-feira, 4 de março de 2014

A propósito de “Doze contos meio poema” de Krishnamurti Góes dos Anjos



Se um dia puder, escreverei um tratado da bajulação dos críticos literários, pois, não concordo com ela em absoluto, embora considere útil uma crítica literária séria, honesta e construtiva.
Por isso, sendo eu um escritor anti-bajulação, não tenho motivos para ser intelectualmente desonesto. Na verdade, são poucos os escritores que admiro, como ao meu grande ídolo Gabriel Garcia Marquez. Li o livro de Krishnamurti Góes dos Anjos e só posso oferecer considerações elogiosas. Pela riqueza vocabular e estilística, pela maturidade da linguagem e pela sua grande capacidade de criação de enredos. São raros os escritores que apresentam esta característica especial, de sondar, viver e conviver intimamente com os pensamentos e sentimentos íntimos e profundos dos personagens que eles próprios criaram, observando-os, animando-os e modelando-os.
Um contador de histórias nato, que cruza a realidade vivida, com a realidade sonhada, fundindo-as.
A preocupação primordial do autor com a realidade e as diversas leituras que esta suscita são o motor da sua escrita. Paixão, verve, ondas de criatividade e um turbilhão de pensamentos cruzados numa espécie de vendavais, onde o quotidiano serve de chão ao desafio de olhar o mundo.

Por tudo isto, vale sempre a pena a experiência da leitura de Krishnamurti Góes dos Anjos.


Delmar Maia Gonçalves

(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)