PREFÁCIO
Por DELMAR MAIA GONÇALVES
Dizia-me a Autora deste belíssimo
livro, escrito numa linguagem acessível, simples e cristalina, podendo
afirmar-se mesmo, que perpassa a candura e a inocência poética da infância (que
é o centro crucial do furacão da vida), e que vivamente recomendo, como quem me
segreda sabiamente o silêncio das
pedras que gritam e só o coração responde, que tinha de ser “eu” o prefaciador,
assim mesmo como um pássaro que assobia aos seixos.
Obrigado digo eu vida que me
trouxe aos meus sentidos!
Com uma sensibilidade à flor da
pele, guiada pela lua, escreveu a história que dedica a filha que não teve. Não
tenho dúvidas que se trata de uma poética “declaração” de amor incondicional à
lua. A lua que cabe nas mãos do mundo que a abraça e ampara permanentemente, incondicionalmente.
Não falarei pois do Livro ou da
história, mas irei deixando marcas nas águas índicas deste e da sua Autora, um
pouco como os irmãos moçambicanos de
etnia Makonde, que sabem que havendo uma aura de mistério e segredo
rodeando a preparação das máscaras e a dança propriamente dita, sendo,
por exemplo, importante que não se
saiba a identidade do dançarino, todos querem ficar para descobri-lo.
Ela murmura esse segredo aos quatro ventos
“lunares” e conta-nos como quem guarda
muitas crianças dentro de si e precisa de respirá-las. Diga-se de passagem, que,
sempre cúmplice, adormece ao colo da lua que a aconchega e
serena. Há algo de mágico e revigorante neste “ritual”.
A lua faz parte desde sempre das
mitologias das grandes civilizações antigas, mas também das contemporâneas e
está presente em múltiplos aspectos e questões fundamentais das sociedades
modernas, atravessando mares e oceanos, percorrendo continentes.
E quantas vezes não ouvimos falar
dos mitos associados às noites de lua cheia?
O que dizer desta misteriosa
relação de magnetismo puro que atrai amor, fascínio e medo em simultâneo, e que dominava N’WETI?
Esta menina que teve sempre o
coração dividido entre a inocência
pueril, a tradição mítica e a misteriosa, mágica, solitária e bela
companhia amiga da lua, que nos ilumina
e renova.
Mas quantas vezes não nos
acontece desvalorizarmos o que temos por garantido e valorizarmos apenas o que não temos ou nos parece inacessível? E
não é comum o temor ao desconhecido?
Só a vida e as circunstâncias
ensinaram N’WETI que sentir a longa ausência da lua era como correr
desesperadamente em volta de uma montanha e não encontrar a forma de lhe
descobrir a passagem. E a planta da sua vida já não podia dispensar a presença
e companhia reconfortante da lua.
Depois, dizem as lendas: «sempre
que a lua nasce, nasce também algures um
pequeno “princípe” ou “princesa” que iluminará o mundo com seu perfume singular».
A lua banha-nos a alma e a
esperança adormecida.
Não nos esqueçamos nunca que as
lendas são a poesia da história. Poderíamos viver sem elas?
Como dizia e bem KAHLIL GIBRAN ,
«existe um espaço entre a imaginação do homem e a sua realização, apenas transponível pelo seu desejo».
Oxalá, então, que sejam muitos os
que querem embrenhar-se nesta história, com poesia da lua. E que fique eu
definitivamente calado como um pássaro Xirico sentado aos pés de uma pedra, a
ver entrar decidida e magicamente pelo ar dentro das pessoas esta história
acetinada de sensibilidade da SÓNIA
SULTUANE.
Karingana Ua Karingana…! Karingana!!!
Karingana Ua Karingana…! Karingana!!!
“A LUA DE N’WETI”
DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos - CEMD)
DELMAR MAIA GONÇALVES
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos - CEMD)
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