Bom
seria, que eu, enquanto poeta e prefaciador, fosse capaz de resumir a força do
verbo que esta poeta vianense transporta e transmite. E a força de natureza
poético-literária pode ser travada? Bem o diz a poeta em “Culto Oculto” : “ouço os vossos pensamentos/… nada em vós me
é oculto/ penetro no vosso culto” e remata “e o que era estranho e escuro/ ilumina-se num coração puro”.
Em
que momento a poeta e sua poesia pungente não se fundem e confundem formando um
“corpus” único? A fusão acontece com
a intensidade poética de uma flauta, como afirma “Procurei o silêncio/ no meu silêncio/ e escutei uma flauta/ que
vibrava intensamente/ não há silêncio/ no meu silêncio…”.
A
sua estreia no singular como autora de obra individual, não a coíbe de convicta
reafirmar o que facilmente descobrimos ao lê-la “uma jazida de ideias/ é o que eu sou (…) uma dualidade sinergética/ que
faz surgir as ideias”.
Depois,
há sempre o sabor titubeante e quimérico das palavras que se desfolham e
desnudam. Por vezes, a ternura também fere e, por vezes, também encanta. Das
memórias se fazem histórias e das
histórias, poesia. Por isso, profética, reclama “Não há um caminho/ meio andado/ nem dois por andar/ mas um destino/ ainda
por chegar”. São memórias de quem as
guarda no baú da sua “meninice” e no auge da sua maturidade como um tesouro. E
bem se define ao afirmar “Sou um livro/ publicado/
na mortalha/ de um cigarro/ queimado”.
A emoção à flor da pele, com a palavra certeira, como uma arma que
procura o alvo sem ferir, mas evita o falhanço ao constatar “se parar para pensar/ vou ouvir o vento/ e
se o vento for o pensamento/ vai voar/ vai se libertar/ das amarras do tempo”.
Sensibilidade
poética, que capta a essência do poeta numa rajada ao resumi-la cantando “A alma dum poeta/ é feita da quinta
essência do Universo/ é alma desfeita/ e refeita num só verso”. E quem pode
mudar o destino de uma poeta que vive numa roleta oculta e, que, paciente,
define “A espera” como “uma
lamparina/ que se incendeia/ de esperança”? Bem nos avisa como
leitores atentos “Compreende/ o voo/ das
aves/ não te detenhas/ na articulação/ das suas asas”.
E
um ciclo novo se abre com esta obra, quimericamente objectiva, que nos alerta
para o “Culto Oculto”. Haja, pois, um diálogo genuino entre o leitor e a autora
da utopia convicta, pois “A vida/ segue/o seu percurso/ natural/ como um rio/ que
fluí/ voluntariamente”.
Bayete
Poeta!
Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)
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