quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Anotações para um possível Prefácio de "Dentro da Pedra que voa na metamorfose do Silêncio" de JAPONE ARIJUANE



“Dentro da pedra que voa na Metamorfose do Silêncio” de JAPONE ARIJUANE


Pediu-me o amigo confrade e conterrâneo Zambeziano JAPONE ARIJUANE que escrevesse alguma coisa sobre o seu Livro.Com muito gáudio o faço espraiando o que me vai na alma ao lê-lo, sendo certo que esta é a visão simultaneamente subjectiva e objectiva de um poeta sobre a obra de outro.Exercício de certo arriscado.
Se é correcto dizer-se que qualquer obra de arte é de uma profunda e infinita solidão, também o é afirmar-se que se o homem olhar para bem dentro de si, adquirirá a consciência da sua magnífica solidão que embora o isole singulariza-o, não o separando todavia do resto da existência.Claramente há no Eu-Poético indeléveis marcas de uma radical solidão interior carregada de vontades “Não tenho senão / essa vontade/ de me reinventar em palavras.”
Estou certo que aquele que é capaz de ouvir o que os outros dizem e não dizem, penetrando no pensamento com uma agilidade mental espantosa, estará sempre em condições de compreender mil e uma coisas diferentes de uma realidade sem nome e sem forma definida.
O elemento pedra adquire aqui uma importância fundamental , que é inaugurada no próprio título do Livro e atravessa a obra lapidarmente.E haverá elemento mais poético que a pedra que só a poesia consegue vitalizar?
Bem o diz o Poeta precocemente que “Já quis reformar essa coisa de poeta em mim…”, mas “os pássaros que voam de relance /na minha imaginação/ depilam pedra-a-pedra/ a minha sensibilidade.”.Não tenho dúvidas disso , comprovadas pela busca incessante na Mafalala dos trilhos galgados pelo Soba e Mestre Craveirinha, como que perseguido fatal e irremediavelmente pelos pássaros que traz e transporta consigo no peito que ora “…são pássaros de fogo e ferro” ora “…de sangue e carne”, e também pela sua indiscutível qualidade poético-literária.Poesia e muita verve, é o que nos oferece o vate Índico que se banhou nos Bons Sinais.
Por isso sente “saudades…/de sentir nos outros / as minhas emoções / emoções que jamais os outros / sentirão por mim…”
Verdade seja dita, os leitores não sentirão emoções pelo poeta, mas certamente sucederá a emoção pela degustação da sua poesia!Estou tão certo disso como São Tomé.Já os vejo deleitarem-se prazerosamente numa qualquer biblioteca ou numa esplanada cultural improvisada ou não.
Apesar da sua escandalosa modéstia ao afirmar “ A pureza do papel não me emociona / poderia fazer barcos de papel / poderia fazer barcos de poema / barcos de papel fi-los na infância / os de poema fazem-no os poetas.” Fazem-no os poetas?E ele que é um exímio ladrilhador de palavras?
Como dizia ponderadamente RILKE e faço minhas as suas palavras “…entre em si mesmo e examine as profundezas das quais a sua vida emana ; é na sua fonte que encontrará a resposta à pergunta sobre se deve criar.Assuma-a tal como lhe soa , sem dela duvidar.Talvez tenha a demonstração que está destinado a ser artista.”
Não direi portanto nada de novo ao recordar as sábias palavras de VIRGINIA WOOLF dirigidas aos jovens poetas que subscrevo inteiramente : “Deixe que as suas opiniões e juízos de valor tenham o seu próprio desenvolvimento calmo e imperturbável que, tal como todo o progresso, tem de vir do seu ser mais profundo que não pode ser forçado ou acelerado por coisa alguma.Deixar as coisas chegar ao seu termo natural e depois dar à luz.”Não é o melhor método o não – método?
Tenho a certeza que os poetas se revelam na generosidade com que se dão aos outros.A escrita sublinha a singularidade e a identidade únicas de cada um, que ficará ou não eternizado no verbo.
Pois como diz o poeta profeticamente “ A morte não é o fim / é a indiferença das coisas / à espera do novo dia.”
Tenho a certeza que pela força telúrica do verbo, os ventos lhe serão favoráveis , no nobre desejo que convicto o vate revela “ Há / em mim um desejo / de uma pedra / se tornar gente /para em silêncio / se retornar pedra.”
Entretanto , “É no silêncio da pedra / que se espelham as almas”.Mas no silêncio que apela,desafia,entranha, fermenta, grita, impele, interpela , planta, revolve e colherá o fruto inicial da impossibilidade da indiferença no / ao poeta.
Como dizia KAHLIL GIBRAN “Na verdade, falamos apenas para nós mesmos; contudo , falamos por vezes suficientemente alto para que outros nos consigam ouvir.”
Continue pois tecendo o pano da vida com os fios do coração!
Bayete Poeta do Índico!!!
Delmar Maia Gonçalves


(Escritor  e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora -CEMD)

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