Se é correcto dizer-se que qualquer
obra de arte é de uma profunda e infinita solidão, também o é
afirmar-se que se o homem olhar para bem dentro de si, adquirirá a
consciência da sua magnífica solidão que embora o isole
singulariza-o, não o separando todavia do resto da
existência.Claramente há no Eu-Poético indeléveis marcas de uma
radical solidão interior carregada de vontades “Não tenho senão
/ essa vontade/ de me reinventar em palavras.”
Estou certo que aquele que é capaz de
ouvir o que os outros dizem e não dizem, penetrando no pensamento
com uma agilidade mental espantosa, estará sempre em condições de
compreender mil e uma coisas diferentes de uma realidade sem nome e
sem forma definida.
O elemento pedra adquire aqui uma
importância fundamental , que é inaugurada no próprio título do
Livro e atravessa a obra lapidarmente.E haverá elemento mais
poético que a pedra que só a poesia consegue vitalizar?
Bem o diz o Poeta precocemente que “Já
quis reformar essa coisa de poeta em mim…”, mas “os pássaros
que voam de relance /na minha imaginação/ depilam pedra-a-pedra/ a
minha sensibilidade.”.Não tenho dúvidas disso , comprovadas pela
busca incessante na Mafalala dos trilhos galgados pelo Soba e Mestre
Craveirinha, como que perseguido fatal e irremediavelmente pelos
pássaros que traz e transporta consigo no peito que ora “…são
pássaros de fogo e ferro” ora “…de sangue e carne”, e também
pela sua indiscutível qualidade poético-literária.Poesia e muita
verve, é o que nos oferece o vate Índico que se banhou nos Bons
Sinais.
Por isso sente “saudades…/de sentir
nos outros / as minhas emoções / emoções que jamais os outros /
sentirão por mim…”
Verdade seja dita, os leitores não
sentirão emoções pelo poeta, mas certamente sucederá a emoção
pela degustação da sua poesia!Estou tão certo disso como São
Tomé.Já os vejo deleitarem-se prazerosamente numa qualquer
biblioteca ou numa esplanada cultural improvisada ou não.
Apesar da sua escandalosa modéstia ao
afirmar “ A pureza do papel não me emociona / poderia fazer barcos
de papel / poderia fazer barcos de poema / barcos de papel fi-los na
infância / os de poema fazem-no os poetas.” Fazem-no os poetas?E
ele que é um exímio ladrilhador de palavras?
Como dizia ponderadamente RILKE e
faço minhas as suas palavras “…entre em si mesmo e examine as
profundezas das quais a sua vida emana ; é na sua fonte que
encontrará a resposta à pergunta sobre se deve criar.Assuma-a tal
como lhe soa , sem dela duvidar.Talvez tenha a demonstração que
está destinado a ser artista.”
Não direi portanto nada de novo ao
recordar as sábias palavras de VIRGINIA WOOLF dirigidas aos jovens
poetas que subscrevo inteiramente : “Deixe que as suas opiniões e
juízos de valor tenham o seu próprio desenvolvimento calmo e
imperturbável que, tal como todo o progresso, tem de vir do seu ser
mais profundo que não pode ser forçado ou acelerado por coisa
alguma.Deixar as coisas chegar ao seu termo natural e depois dar à
luz.”Não é o melhor método o não – método?
Tenho a certeza que os poetas se
revelam na generosidade com que se dão aos outros.A escrita
sublinha a singularidade e a identidade únicas de cada um, que
ficará ou não eternizado no verbo.
Pois como diz o poeta profeticamente “
A morte não é o fim / é a indiferença das coisas / à espera do
novo dia.”
Tenho a certeza que pela força
telúrica do verbo, os ventos lhe serão favoráveis , no nobre
desejo que convicto o vate revela “ Há / em mim um desejo / de
uma pedra / se tornar gente /para em silêncio / se retornar pedra.”
Entretanto , “É no silêncio da
pedra / que se espelham as almas”.Mas no silêncio que
apela,desafia,entranha, fermenta, grita, impele, interpela , planta,
revolve e colherá o fruto inicial da impossibilidade da indiferença
no / ao poeta.
Como dizia KAHLIL GIBRAN “Na verdade,
falamos apenas para nós mesmos; contudo , falamos por vezes
suficientemente alto para que outros nos consigam ouvir.”
Continue pois tecendo o pano da vida
com os fios do coração!
Bayete Poeta do Índico!!!
Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de
Escritores Moçambicanos na Diáspora -CEMD)
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