Uma obra em segunda edição
(a primeira foi em 2009) que resgata a riqueza cultural ancestral africana e a
aura de mistério que rodeiam as tradições e os mitos ancestrais africanos numa linha
que deu continuidade mágica em “N´TSAI TCHASSASSA A VIRGEM DAS MISSANGAS”, o
seu segundo magnífico romance de 2013 e depois do seu anterior, inicial e
sereno navegar pela Poesia em “ GESTAÇÃO DO LUAR” em 1991.
O ressuscitamento e
cruzamento ficcional de mitos, lendas, ritos e tradições ancestrais é a sua
imagem de marca.
Estamos, portanto,
perante um escritor Moçambicano e Africano de longo curso (porque nos oferece
muitas possibilidades de leitura e releitura e, porque muito esperamos dele e
da sua sagacidade, talento, engenho e da sua já consolidada maturidade na
escrita).
A revalorização e
convocação das tradições, dos ritos e dos mitos do grande ZAMBEZE será como que
uma recuperação simbólica desse estado civilizacional anterior aos quase fatais
golpes de força externos (colonização, aculturação e assimilação) e internos
(independência, revolução, socialismo científico, monopartidarismo ,
pluripartidarismo, democracia, capitalismo e globalização), sua assumpção na
escrita moçambicana em língua portuguesa que ganhou hegemonia, estrangulou-a,
asfixiou-a, mas não a apagou nem apagará como prova este autor e esta obra e
ainda outros autores como PAULINA CHIZIANE que a prefaciou ou UNGULANI BA KHA
KOSSA que fazem abordagens ficcionais desconstrutivas, críticas e autocríticas
das sociedades africanas ancestrais e actuais.
CARLOS PARADONA RUFINO
ROQUE resgata com profundidade os valores tradicionais, valores próprios das
culturas de tradição oral de um passado que nunca esteve nem estará ausente de/
em África, convocando-os do passado para o presente rumo ao futuro.
Não se trata de
regressar ao passado, mas de trabalhar a modernidade sem renegar o passado ou
virar as costas ao rico e vasto património cultural tradicional ancestral que urge
hoje mais do que nunca preservar e revalorizar em memória escrita, ainda que
ficcionada. É essa a missão do escritor.
Ao trazer estas formas
e o imaginário africano, moçambicano e bantu da tradição oral para a sua obra,
CARLOS PARADONA RUFINO ROQUE chama a atenção para todo o manancial e riqueza
das culturas bantu moçambicanas mais profundas e enraizadas que já chegaram a
ser rotuladas como meras superstições e puro exercício do obscurantismo, primeiro
pelo colonialismo e depois pelos conturbados ventos da revolução moçambicana.
Nesta óptica, a recuperação
dos valores ancestrais do mundo tradicional bantu, uma vez que é a rejeição
clara de posturas exógenas, cumpre uma função histórica e pedagógica de um
irreversível processo de desassimilação, de demarcação relativamente ao que é
exterior e estranho à(s) cultura(s) genuinamente Moçambicana(s).
Podemos concluir
dizendo convictos que a presença dos modelos de tradição oral neste autor é sabiamente
orientada fundamentalmente por um espírito de afirmação claríssima da
identidade cultural Moçambicana e da reafirmação inequívoca da identidade de
uma literatura emergente e consolidada por um conjunto de autores variados de
grande qualidade.
Por essa razão atrevemo-nos,
pois, a afirmar que se quiserem conhecer as entranhas do MOÇAMBIQUE profundo,
na misteriosa e labiríntica região do grande ZAMBEZE, mergulhem na aventura
desta obra ficcional que este autor generosamente nos oferece.
Segundo o ilustre
académico Moçambicano Lourenço do Rosário «As narrativas de tradição “oral”
africana têm uma forte componente didáctico – moralizante», isto reflecte-se
aqui na sua estruturação magistralmente construída, porque nos ensina que no MOÇAMBIQUE
profundo por vezes oculto os vivos e os mortos, o visível e o invisível se
entrelaçam na roda do mundo em que vivemos e por onde caminhamos na eterna
dança do quotidiano ao som dos passos do batuque e que há saberes
propositadamente ocultos ou adormecidos que devem ver a luz do dia. Por outro
lado, não nos esqueçamos que foi indubitavelmente com o mito que a história
humana sempre e em toda a parte começou; foi através do mito que os vocábulos,
os símbolos originários tomaram a sua primeira forma e cada era nova da
história os redescobriu à sua maneira. Ora, como se sabe o processo cultural de
onde a literatura de MOÇAMBIQUE emerge tem grande parte das suas raízes
mergulhadas no mito, vivificado no quotidiano e presente na visão religiosa ou
animista “africana” e religadora do homem à terra e ao transcendente.
Bayete pois para o
Escritor CARLOS PARADONA RUFINO ROQUE.
DELMAR MAIA GONÇALVES
(ESCRITOR e PRESIDENTE
DO CÍRCULO DE ESCRITORES MOÇAMBICANOS NA DIÁSPORA – CEMD)
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