A iluminação espiritual tem algo
a ver com o ponto do espírito onde o alto e o baixo, o interior e o exterior, o
superior e o inferior, o sonho e a acção, o real e o imaginário, deixam de ser
percebidos contraditoriamente.
Assim que se começa a estudar o
zen, uma árvore não é uma árvore, um rio não é um rio. Deixam de o ser. Assim
que se atinge a iluminação espiritual, uma árvore é de novo uma árvore, um rio
é de novo um rio. O método que consiste em não seguir nenhum método é o método
por excelência.
Alguém duvida?
O dia e a noite deixarão de
opor-se. Na realidade, nunca se opuseram.
A raiz comum na imaginação será
reconhecida. Sendo o exterior à imagem do interior, a vida será uma autêntica
obra de arte. Na verdade, uma obra-prima única e inigualável.
O nosso intelecto é inegavelmente
necessário para compreender as próprias limitações.
Segundo a experiência e
perspectiva zen, o verdadeiro conhecimento é inseparável da experiência
imediata. És posto à prova sozinho.
Mas se o homem olhar bem para
dentro de si, adquire indubitavelmente a consciência superior da sua magnífica
solidão, que o isola sim, mas não separa do resto da existência.
Aquele que é senhor de si mesmo, que
é capaz de ouvir o que os outros dizem e não dizem, penetrando no pensamento
com uma agilidade mental admirável, estará em condições indiscutíveis de
compreender mil e uma coisas diferentes de uma realidade sem nome e sem forma
definida.
A definição, mais ou menos
clássica ou mais ou menos académica, só
satisfaz aqueles que querem rotular o
conhecimento separado da própria vida. O verdadeiro conhecimento não é
rotulável nem hierarquizante. E nunca em momento algum deveria ser separado da
vida.
O zen oferece-nos condições para
que vivamos completamente livres do condicionamento das emoções negativas
sempre nefastas, e da condição de alienados.
A humildade é portanto a condição
número um para que tal suceda. Mas também não podemos esquecer a dedicação
constante e diária para nos conhecermos e para vigiarmos o nosso comportamento
inconstante.
No que à grande quietude do Poeta
iluminado diz respeito, ele nunca está sereno por se dizer que a bendita
serenidade é excelente. Está sereno porque a enorme e gigantesca multidão de
coisas não pode jamais perturbar a sua serenidade, jamais!
As palavras fazem amor. As
palavras- actos e não as que pressupõem actos.
Nós passamos a respirar as
palavras – actos. Não há separação.
E isto só é possível com o zen. Ou
não?
Quando “trabalhamos” somos como
flautas e no nosso coração o murmúrio das horas, do tempo soa como música. Uma
música harmoniosa.
E o que é trabalhar com amor? É tecer
o nosso pano com os fios do coração, como se estivéssemos a tecer e moldar a
roupa do nosso mais que bem amado universo em que viveremos.
Recordando o grande Poeta RABINDRANATH
TAGORE diremos então que “ Sobre as tramas do nosso finito que é infinito e
cuja tapeçaria bordamos quotidianamente nossas vidas, acaba sempre visível a
mais ínfima nódoa!”
Por isso se torna vital a nossa
harmonização interior para que expressemos um exterior muito mais transparente,
mais sereno e sem mácula.
DELMAR MAIA GONÇALVES
(ESCRITOR e PRESIDENTE DO CÍRCULO
DE ESCRITORES MOÇAMBICANOS NA DIÁSPORA – CEMD)
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