sexta-feira, 26 de setembro de 2014

PREFÁCIO do livro “Olhar de uma Africana” de Margarida Tavares


Pediu-me a amiga e “soba” MARGARIDA TAVARES (uma verdadeira lição de vida em carne viva), das ilhas crioulas de CABO VERDE que escrevesse um prefácio em tempo record, para este “Olhar de uma Africana”.
O tempo foi curto para um empreendimento desta dimensão, natureza e responsabilidade, e o nível de auto-exigência desproporcional. Mas o que fazer? Dizer não? Como resistir ao apelo da África viva? Como resistir ao apelo da poesia? Como resistir à fraternidade humana? Como resistir ao apelo da Lusofonia?
A Autora, “mais um precioso pedaço de pau-preto disseminado pelo Mundo”, nas palavras da malograda e grande Poeta Moçambicana NOÉMIA DE SOUSA, abraça a Lusofonia como quem se embrenha num Poema inacabado para finalmente concretizá-lo.
Decifrar seu universo enigmático e singular, no plano de uma poética subjectiva, torna-nos ainda mais cúmplices de uma experiência ou conjunto de experiências que envolvem a própria vida.
Mas, não é verdade que cada ser humano é ele próprio uma ilha nascendo noutras ilhas?
Fica-nos a poética pujante e pungente de MARGARIDA TAVARES, uma mãe coragem de África, para com ela nos deliciarmos e descobrirmos também as ilhas que há em nós, individual e colectivamente, para finalmente redescobrirmos a maravilha da infalibilidade da interdependência.
Este livro, como a Autora, é de uma audácia que vale a pena descobrir.
Títulos como “Os líderes Africanos”, ”Regresso de um Emigrante”, ”Preto”, ”Africana”, ”Crianças Africanas”, ”Estudantes Africanos”, ”Cabo-Verdiano”, ”Continente Africano”, entre outros, provam que a África vai pulsando nas diásporas e sugerem o orgulho nas/das origens, o orgulho de ser Africano e um claro e pujante apelo fraterno da presença Africana no mundo. Na verdade, tudo o resto estará nas entrelinhas do subjectivo e secundário, que África não se encerra nunca nas páginas dos livros e MARGARIDA TAVARES cantá-la-á sempre e enquanto respirar e, ainda mais, sempre que um Leitor atrevido e sedento devorar esta obra que urge descobrir e redescobrir.
É fundamental, pois, que cada um de nós ao lê-lo, olhe bem para dentro de si próprio para adquirir a consciência da sua magnífica solidão que nos enriquece e enriquecerá sempre na diferença.
África essa continuará a dançar na autora ao som dos batuques, em nós Leitores e no Mundo, através destes belos, altivos e fraternais Poemas.

DELMAR MAIA GONÇALVES

(ESCRITOR e PRESIDENTE DO CÍRCULO DE ESCRITORES MOÇAMBICANOS NA DIÁSPORA – CEMD)

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