segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Malfez Razão

“Se podemos sonhar, também podemos tornar os nossos sonhos realidade.”
Walt Disney

Malfez Razão
O menino africano que queria ser génio
Era uma vez um menino Moçambicano, de nome Malfez Razão dos Santos, nascido nos arredores de Quelimane, que queria ser génio. Não, não era europeu, nem era branco (condição número um para ser considerado como tal na Europa, nem tinha grandes padrinhos brancos, era negro mas queria ser como Einstein, Cervantes, Camões, Mozart, Platão ou Sócrates. Era apenas mais um jovem ambicioso, mas africano!
Quando lhe perguntavam “Quando fores grande o que queres ser?”, ele dizia de pronto: “- Quero ser um génio, um cientista! No meu país já há maningues políticos e militares!”
Na verdade, nisso até tinha razão; por vezes na vida há coisas que pecam por excesso. E no nosso país não é excepção!
Mal o menino atingiu a maioridade, mamã Vitória mandou-o para a Europa, onde foi estudar com uma bolsa de estudo da Igreja Católica, conseguida com muitos sacrifícios, isto é, com muito suor e com uma boa “cunha”!
Chegado a Paris, cidade das luzes, descobriu que havia tudo menos vagas para génios. Quanto às luzes, nem vê-las! Era apenas uma metáfora!
Mas decidiu não desiludir mamã Vitória, que dizia com muito orgulho na terra: “- Meu filhinho foi estudar mesmo na Europa para ser gente importante como os políticos igual a Mandela ou o grande Poeta Craveirinha!”
No mundo ocidental há tanta promiscuidade, tantas tentações, tanta atraente ostentação, que tornam o homem um ser frágil, inconstante, inseguro, indefeso e vulnerável o que dificulta o propósito de alguém que quer ser génio ou que já é genial. Com a agravante de haverem também os jogos de interesses , o preconceito, o “racismo” e a “xenofobia”, isto é, funciona em geral segundo a lógica da exclusão.
Malfez Razão, que ganhou uma bolsa de estudos que servia para cinco anos, (graças à mamã Vitória!), o suficiente para iniciar e terminar um curso superior, decidiu ficar, mesmo que fosse só para não desiludir mamã Vitória, pensando sempre para consigo: “- Chiçá, não volto agora para o meu país, lá há maningues políticos, pobreza e miséria, e mamã Vitória ficaria triste comigo!”
Depois de sete anos na Europa, regressou à terra, não como génio, mas como um bêbedo inveterado, daqueles que não fazem falta em lado nenhum. Mas mamã Vitória, já mais velhinha mas sempre sábia, subtil e bondosa, ia dizendo às amigas no seu jeito maroto:”- Coitado do meu filhinho; é capaz estudou tanto que ficou doido! Mas é capaz parece os génio são todos maluco completamente, não é?”
E assim viveu mamã Vitória até ao último suspiro, com um filho alcoólico (eterno candidato a génio!) e a sua eterna verdade da mentira.


Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)
Parede, 5 de Janeiro de 1996.

Glossário:
Maningue - muito
Maningues – muitos
Craveirinha – José Craveirinha, poeta e escritor moçambicano.
Mandela – Nelson Mandela, primeiro presidente negro da República da África do Sul.

Ilustração:
"Malfez Razão"
De Fabio Inglese
(Artista Plástico Italiano)
Lisboa, 2007.


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