segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Rei de Kanem Borno as Sete Esposas

Quando um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe é favorável”.
Séneca

O REI DE KANEM BORNO E AS SETE ESPOSAS
Era uma vez, no longínquo reino africano de Kanem Borno – junto da actual Nigéria moderna (em 1067 o historiador Espano-Árabe El Bekir descreveu a extensão deste território como indo do Lago Chade até ao rio Níger a oeste; Kanem dominava toda a rota comercial do leste através do deserto do Sahara quase até aos arredores de Tripoli bem como a região Wadai até à parte superior do Nilo além da sua sede na área do lago Chade) – governado por um sábio, poderoso e generoso rei, Mai Dunama Dabalemi, que tinha sete esposas. Seis eram nobres africanas e uma, a sétima, nobre asiática que lhe tinha sido oferecida pelo grande sultão industânico Sultan Singh Rai, que visitara o reino acompanhado da sua esposa, para incrementar as trocas comerciais e as relações diplomáticas e de amizade.
O rei dedicava um dia a cada uma das suas belas esposas.
Todas tinham tratamento igual; não havia ciúmes ou inveja entre elas. Até que, um dia, o rei reuniu com o Conselho dos Anciãos e este deliberou que se devia nomear uma rainha das rainhas entre as suas sete esposas.
A ambição surgiu como um primeiro sinal de mudança de atitude nas esposas do rei. Todas queriam ser nomeadas rainha das rainhas com excepção da asiática, que dizia nunca ter ambicionado a tanto, pois era uma estrangeira.
Mas o destino dela estava traçado e era precisamente favorável à sua nomeação como rainha das rainhas. O povo também a amava por possuir bom coração.
Decidiu o rei e o conselho de anciãos aprovou. Tornou-se rainha das rainhas.
O rei ficou muito feliz, pois achava a sua sétima esposa bela, simples e muito leal. Tal não sucedia relativamente às outras que embora belas tornaram-se caprichosas.
Começaram então os problemas para o rei e para este reino de tranquilidade.
As seis belas esposas descontentes elaboraram um maquiavélico plano que visava a morte da rainha. Na verdade, tratava-se de uma conspiração que tinha o apoio de alguns elementos influentes na corte central.
Informado pelos seus leais espiões e súbditos, o rei apercebeu-se da conspiração e mandou cortar as cabeças das suas seis esposas, juntamente com as dos seus conselheiros acusados de traição, tendo optado por ficar definitivamente com uma esposa apenas, a rainha.
Segundo ele, ter mais do que uma esposa só trazia disputas, problemas e conflitos, e nunca a paz de que todos necessitamos. Paz com Deus, com os outros, com a vida, com o mundo e connosco próprios.
Finalmente, o rei reuniu com o Conselho dos Anciãos e decidiu que ninguém do reino poderia ser polígamo, isto é, ter mais do que uma esposa, decisão apoiada e votada por maioria consensual.
O rei e a rainha viveram juntos e felizes para sempre. Ele generoso, justo, magno, poderoso e sábio como sempre e ela, bela, bondosa, leal, e simples.

Delmar Maia Gonçalves

(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)
Parede, 10 de Junho de 1988.


Glossário:
Kanem Borno – Um antigo reino africano da Nigéria.
Mai Dunama Dabalemi - Antigo rei do Kanem Borno.

Ilustração:
"O Rei de Kanem Borno e as sete esposas"
De João de Barros
(Artista Plástico e Arquitecto Guineense)
Lisboa, 2008.


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