quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Princesa Pemba, a filha do grande Soba Li-U-Thab

PRINCESA PEMBA, A FILHA DO GRANDE SOBA LI-U-THAB

Conta a lenda de uma pequena mas pujante tribo da África Oriental, junto da actual costa Moçambicana, o seguinte sobre a princesa Pemba:
Pemba era o nome de uma gentil e formosa filha do grande Soba Li-U-Thab, educado em Medina, na Arábia Saudita. Este era um Soba poderosíssimo, dono de uma grande região e exercendo a sua autoridade tradicional sobre um grande número de regulados.
Ela estava destinada a ser conservada virgem, para ser ofertada às divindades de uma tribo maioritária, como tributo; acontece porém que um jovem estrangeiro de origem árabe de nome Mussah, muito audaz, conseguiu penetrar nos sertões da imensa África e enamorou-se dela arrebatadoramente.
Esta, por sua vez, correspondeu fervorosamente a este amor e, durante algum tempo, gozaram as delícias que só estão reservadas aos apaixonados que se amam verdadeiramente, aos sonhadores.
Porém, não há bem que dure sempre. O grande Soba Li-U-Thab foi sabedor destes amores profanos e, numa noite de luar, mandou degolar o jovem estrangeiro e deitou o seu corpo inerte em pedaços no rio sagrado U-Sil, para que os crocodilos e as piranhas o devorassem rapidamente.
Não se pode descrever o desespero e o desgosto da princesa Pemba. E, para provar a sua dor, esfregava todas as manhãs no seu lindo corpo e rosto um pó extraído dos montes brancos Kabanda e, à noite, para que o seu pai não soubesse dessa sua demonstração de pesar pela morte do seu amado, lavava-se nas margens do rio sagrado U-Sil.
Assim fez, durante muito tempo. Porém, um dia, as pessoas da sua tribo que sabiam dessa velha paixão e que assistiram ao seu banho nupcial diário viram com assombro e espanto que ela elevava-se no espaço ficando, em seu lugar, uma grande quantidade de massa branca, lembrando um tubo.
Apavorados, correram a contar ao velho Soba o que viram; este, profundamente desesperado, quis mandar degolar todos os súbditos denunciantes. Porém, como eles houvessem passado e esfregado nas mãos e corpo o pó branco deixado pela princesa Pemba, notaram que a cólera do grande Soba se esvaía, se evaporava, fazendo-o manso, prudente e ponderado, acabando mesmo por não castigar os seus servos.
Começou, então, a correr a fama das qualidades milagrosas da massa deixada pela princesa, que sobreviveu muitas gerações, chegando até aos nossos dias, para benefício daqueles que a ela recorrem e nela ainda acreditam.

Adaptado
Delmar Maia Gonçalves
(Escritor e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora - CEMD)
Madorna, 2 de Fevereiro de 1996.

Glossário:
Pemba
- é o nome de um objecto permanente nos ritos africanos mais antigos que se conhecem, fabricado com o pó extraído dos montes brancos Kabanda e água do rio divino U-Sil. Diz-se que é empregue em todos os ritos, cerimónias, festas, reuniões ou solenidades africanas.
É também o nome da cidade capital da província Moçambicana de Cabo Delgado, situada no Norte.
Soba - Chefe da tribo em África; régulo.
Regulados - povoações tribais chefiadas por um régulo.

Ilustração:
"Princesa Pemba"
De Tânia Ferreira
(Professora do Ensino Básico e Artista Plástica)
Lisboa, 2007.

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